Ornamentos vocais para embelezar o seu canto

Quando um cantor entoa uma melodia, é possível que ele execute as notas da canção de forma estrita, sem floreios. Porém, o intérprete também pode se valer dessa mesma base melódica e enfeitá-la com os chamados ornamentos vocais.

Como o próprio nome diz, esse recurso não visa criar outra composição, mas apenas embelezar o que já está pronto.

Apesar de estarmos falando especificamente do canto, os instrumentistas também podem ornamentar as canções. Os ornamentos, sejam eles vocais ou feitos por instrumentos musicais, são ferramentas poderosas para improvisação e aperfeiçoamento da performance.

Ao longo desse artigo, você irá conhecer algumas referências históricas sobre o tema. Posteriormente, abordaremos os principais ornamentos vocais, mostrando as diversas formas que um cantor pode incrementar a canção e imprimir sua própria identidade nas interpretações.

E, por fim, daremos algumas dicas preciosas para você não exagerar a dose nos ornamentos e não fazer feio nas suas apresentações musicais. Fique com a gente!

Aspectos históricos dos ornamentos

fotografia antiga de cantores  ensaiando próximo ao piano

Historicamente, o uso de ornamentos na música antiga atingiu seu apogeu no período barroco (iniciado no fim do século XVI), assim como a improvisação, já que se exigia grande virtuosismo dos músicos.

É difícil definir um início no uso desses recursos de adorno na música, já que não havia uma notação específica para isso. Já na era barroca foram inseridos sinais indicativos na própria partitura, quando o compositor assim desejava.

Caso ele não quisesse incluir esses sinais na notação, a ornamentação ficava à escolha do instrumentista, de maneira improvisada.

Em relação à música vocal antiga, os cantores também improvisavam, decidindo quando acrescentar os ornamentos, inclusive nas óperas.

O uso de ornamentações se tornou bem menos frequente durante os períodos clássico e romântico. Os compositores do Classicismo, por exemplo, por buscarem a simplicidade, evitavam esse recurso em suas criações.

Quando havia, os ornamentos não estavam indicados com sinais gráficos específicos. Desta forma, apareciam grafados “por extenso” na partitura, de maneira detalhada, como se fossem notas reais da melodia.

Já na música popular, especialmente com o jazz, durante o século XX, os ornamentos ganharam muita relevância.

Tipos de ornamentos

siluenta de cantor. Aparentemente ela está executando alguns tipos de ornamentos vocais

Na música erudita podemos enumerar nove tipos de ornamentos, cujas denominações têm origem italiana:

Na música popular, por sua vez, instrumentos como a guitarra trazem a possibilidade de execução de alguns ornamentos específicos, como o slide, o bend, o pull of e o hammer on.

Os principais ornamentos vocais

E como os cantores podem adornar as melodias?

Para responder a esta pergunta, iremos esmiuçar, a seguir, os principais ornamentos vocais, largamente utilizados no jazz, pop, R&B e gospel, entre outros estilos. Vamos conhecê-los?

Vibrato

Mesmo que você nunca tenha estudado canto, provavelmente você conhece este, que é o mais comum dos ornamentos vocais.

O vibrato se caracteriza por aquelas oscilações na nota musical, principalmente em finais de frase. É como se a voz desse uma leve tremida.

Trata-se de um recurso largamente utilizado por cantores, tanto na música erudita quanto popular.

Há três tipos de vibrato:
Cantor ensaiando em stúdio com microfone antigo
  • Diafragmático – é aquele gerado a partir de ajustes na pressão subglótica (pressão abaixo das pregas vocais), induzida pela musculatura relacionada ao apoio diafragmático. Com isso, ocorrem variações na intensidade da nota musical, com efeito ondulatório característico do vibrato.
  • Laríngeo – neste tipo de vibrato, é a musculatura laríngea que provoca as oscilações na voz, alterando a frequência da nota. O cantor alterna a nota musical com outra meio tom abaixo, mas de forma bem rápida, gerando o “tremido” típico desse ornamento.
  • Vibrato misto – ocorre pela ação da pressão subglótica e da musculatura laríngea.

Apogiatura

Considerado o ornamento mais simples do canto, a apogiatura consiste em uma nota de apoio antes de uma nota real da melodia, sendo um semitom ou um tom acima (apogiatura superior) ou abaixo (apogiatura inferior).

Grupetto

Ao juntarmos a apogiatura inferior e a apogiatura superior, temos um outro ornamento vocal, o grupetto. Muita gente utiliza esse recurso no canto, mas o denomina erroneamente como melisma.

Melisma

Muito utilizado na música gospel e na black music, o melisma é um dos ornamentos “queridinhos” dos cantores que amam improvisar sobre a melodia.

Consiste em cantar uma única sílaba em várias notas diferentes, mas dentro de uma mesma escala musical. Isto deve ser realizado de maneira célere e sequencial, exigindo muito treino e percepção do cantor, para que não desafine. Veja que é um ornamento diferente de grupetto e apogiatura.

Drive

Um dos ornamentos mais difíceis, o drive deve ser feito por cantores habituados a técnicas mais avançadas e de forma muito bem orientada, para não machucar o aparelho vocal.

Muito utilizado por cantores de rock, o drive traz uma sonoridade meio rouca e, por vezes, agressiva, mas que garante imponência na interpretação. Outros gêneros musicais também utilizam a técnica, como o sertanejo universitário e até o jazz.

Yodel

Bastante comum no country, o Yodel é um dos ornamentos vocais mais interessantes, pois consiste numa quebra vocal intencional – em geral, na passagem da voz de peito para o falsete. Seu efeito estético é surpreendente.

Glissando

Técnica que consiste em deslizar suavemente de uma nota para outra, o glissando é outro dos ornamentos vocais mais comuns na música popular. 

Dois hits que trazem um pouco de glissando são “Caso Sério”, de Rita Lee, e “Could It Be Right”, do grupo Earth, Wind & Fire.

Dicas para ornamentos vocais inesquecíveis

Como você pôde ver, existem muitas possibilidades de ornamentos vocais capazes de incrementar sua interpretação. Estes que citamos são os principais, mas não são os únicos.

Antes de mergulhar no estudo desses ornamentos, tenha em mente essas três dicas:

  • Se você é um aluno de canto iniciante, não se preocupe muito ainda com as ornamentações. O importante, no momento, é dominar os sustentáculos da arte de cantar, como o fluxo de ar, condicionamento muscular, afinação e ajustes no trato vocal. Depois, você pode partir para técnicas mais avançadas, entre as quais os ornamentos vocais. Por fim, lembre-se: tenha sempre a orientação de um professor de canto ou vocal coach.
  • Determinadas canções não comportam muitos ornamentos vocais, por uma questão de ordem estética. É claro que isso será uma decisão do cantor, mas sempre é bom ter em mente duas palavrinhas básicas: “Bom senso”. Portanto, analise se o tipo de efeito que você pretende utilizar realmente combina com a música que você está cantando. Não adianta encher de melismas um clássico como “Garota de Ipanema”. Neste caso, o menos é mais.
  • Numa apresentação, não arrisque fazer ornamentos vocais que ainda não domina. Tenha paciência e, quando tiver segurança, aproveite seu conhecimento para deixar sua marca e seu talento!

Agora, que tal falar um pouquinho sobre sua experiência? Já consegue fazer algum dos vários ornamentos vocais ou ainda está iniciando sua caminhada no canto?

Conte pra gente nos comentários abaixo! Será uma satisfação enorme “ouvir” você!

About Luciana Amaral

Luciana Amaral é cantora profissional, jornalista, revisora e redatora freelancer. Já participou de vários cursos de canto, como o Modern Mix Voice, do professor Caio Freire; Solte Seu Belting, do professor André Barroso; Canto Popular, durante o Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília (Civebra); e Congresso Online de Voz Cantada, realizado pela Faculdade Novo Horizonte e pela professora Flávia Caraíbas. https://www.instagram.com/luciana.amaral_cantora/

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