Você já ouviu um coro de vozes entoando uma canção de forma harmônica e sem instrumentos? Estamos falando, neste caso, da música à capella, cuja execução não é exclusividade de grandes corais.
Temos grupos bem compactos que ficaram famosos nesse tipo de arte, como o Take 6 e o Pentatonix.
E o fato de cantar sem qualquer acompanhamento instrumental representa um desafio e tanto para qualquer intérprete! Afinal, qualquer traço de imperfeição vocal ficará bem aparente numa apresentação ao vivo. Sem contar que é preciso um ótimo domínio da melodia, do ritmo e da harmonia das peças musicais.
Por isso, os grupos mais disciplinados nesse tipo de música se esmeram não só na afinação e na boa combinação harmônica das vozes, como também incorporam elementos cênicos e o beatbox, sobre o qual falaremos mais adiante.
Origens da música à capella
As raízes da música à capella remontam à Idade Média, pois a música litúrgica, em especial o canto gregoriano, era executada desta forma.
Em muitos casos, os monges e presbíteros cantavam numa ala lateral do templo, onde ficava a capela, daí o termo, cuja origem é italiana.
Inclusive, grandes compositores renascentistas, como Giovanni Pierluigi da Palestrina, contribuíram para a música sacra compondo diversas obras voltadas apenas para vozes.
Música à capella no repertório popular
Mesmo com fortes raízes religiosas, a música à capella não ficou confinada ao universo sacro, adentrando também a música popular.
Exemplo disso são os corais de faculdades e universidades, que muitas vezes executam canções sem acompanhamento instrumental em concursos e diversos eventos.
Podemos citar, ainda, os barbershop quartets – ou quartetos de barbearia – dos Estados Unidos. Surgidos no início do século XX, esses grupos cantavam à frente de barbearias utilizando arranjos harmônicos de considerável complexidade, somados a boas pitadas de humor.
Outro aspecto interessante nos grupos à capella de música popular é a inserção do beatbox nos arranjos. A técnica visa imitar instrumentos percussivos e efeitos eletrônicos com a própria voz.
Grupos famosos de música à capella
Os barbershop quartets influenciaram enormemente a formação de conjuntos vocais contemporâneos. Vamos conhecer alguns deles, tanto do Brasil quanto do exterior:
Take 6:
- Este famoso sexteto norte-americano surgido na década de 1980 revolucionou o canto em grupo e a música gospel, trazendo elementos de soul, jazz e R&B.
Serviu de base e inspiração para vários conjuntos de música à capella criados posteriormente, como o Pentatonix.
Os primeiros discos do Take 6 foram gravados unicamente com as vozes de seus integrantes. Mas o sexteto também lançou CDs com acompanhamento instrumental, como “Join the Band”, de 1994.
Naturally 7:
- Como o próprio nome diz, é formado por sete integrantes e considerado um dos melhores grupos vocais do mundo. Teve a chancela, inclusive, do famoso produtor Quincy Jones, que enxergou o Naturally 7 como o “futuro da música vocal”.
O grupo já dividiu o palco com grandes nomes da música mundial, como Stevie Wonder, Michael Bublé, Lionel Richie, Diana Ross, entre muitos outros.
Pentatonix:
- Este grupo se popularizou a partir de 2011, quando venceu a terceira temporada do programa “The Sing-Off”, interpretando a canção “Eye of the Tiger”, da banda Survivor.
O nome Pentatonix diz respeito ao fato do conjunto vocal ser formado por cinco cantores. Também é inspirado na escala pentatônica, formada por cinco notas. Seu álbum de estreia, “Pentatonix”, chegou ao primeiro lugar na Billboard 200, em 2015.
Voca People:
- Este grupo israelense formado por oito integrantes já fez apresentações em vários países, incluindo o Brasil. Suas performances inovadoras já começam pelo figurino, completamente branco.
O repertório varia de acordo com o local onde o show é realizado, misturando vários gêneros musicais e muito uso das técnicas de beatbox.
Apesar de ser originalmente de Israel, o Voca People já teve elencos específicos no Brasil, Estados Unidos e França, seguindo sempre o mesmo estilo de apresentação.
Vocal Sampling:
- Grupo cubano-brasileiro, o Vocal Sampling apresenta um mix de gêneros, incluindo samba, música cubana e MPB.
Destaca-se no uso do beatbox, com bastante percussão vocal. Porém, às vezes, utiliza instrumentos como cajon e pandeiro, para complementar o arranjo.
SetBlack:
- Este grupo de Brasília (DF) ficou conhecido nacionalmente pela participação no concurso “A Capella”, no programa “Domingão do Faustão”.
Os arranjos são todos feitos pelo músico Paulo Santos, enquanto a parte cênica é criada pela cantora e atriz Ana Barreto. O grupo apresenta versões à capella de vários sucessos, como “Happy”, de Pharrell Williams, e “Brasil”, de Cazuza.
BR6:
- Este grupo carioca, formado por seis integrantes, lançou seu primeiro álbum em 2004.
O trabalho, intitulado “Música Popular Brasileira à Capella”, recebeu dois prêmios pelo The Contemporary A Capella Recording Award 2005: melhor disco na categoria “Folk/World Album” e melhor música – “Disfaça e Chora”, de Dalmo Castelo e Cartola – na categoria Folk/World Song.
Benefícios de se cantar à capella
Além de ser uma arte que exige muita técnica e esmero vocal, a música à capella também traz muitos benefícios aos praticantes. Veja alguns deles:
- Desenvolvimento vocal: Como não há instrumentos para disfarçar possíveis imprecisões, os cantores devem se esforçar em aprimorar sua técnica vocal. Assim, desenvolvem habilidades como afinação, respiração e dicção.
- Maior autoconfiança: Ao desenvolverem a técnica vocal, os cantores também aprendem a confiar ainda mais em seu próprio talento e capacidade.
- Conectividade e concentração: Cantar em conjunto exige do cantor maior concentração, a fim de sincronizar e harmonizar com outras vozes. Desta forma, há maior conectividade entre os integrantes. Todos se ajudam para tornar a execução da música a melhor possível.
- Presença de palco: O canto à capella nos grupos contemporâneos dá ênfase não apenas à parte vocal, como também à performance cênica. Por isso, os cantores são desafiados a melhorar sua presença no palco e a criar mais empatia com o público.
Dicas para cantar à capella
Já pensou em fazer parte desse fascinante universo da música à capella? Então, aproveite as dicas a seguir e mãos à obra!
- Treine individualmente: Antes de se aventurar a cantar em grupo, é importante aprimorar sua própria voz. Faça exercícios vocais regulares e lembre-se sempre de fazer um bom aquecimento antes de qualquer treino! Peça orientação de um bom professor de canto ou vocal coach.
- Conheça a sua voz: Veja se sua voz se ajusta melhor em frequências graves, médias ou agudas. Conheça bem sua tessitura e extensão vocais. Assim, você saberá qual a sua função no grupo.
- Sincronia respiratória: No canto em grupo, tudo é definido em conjunto. Até mesmo ornamentos vocais, como o vibrato, são feitos em sincronia.
Da mesma forma, a respiração. Os integrantes podem praticar movimentos sincronizados ao inspirar e expirar juntos. - Repertório adequado: Escolha canções que sejam adequadas a todos os integrantes do grupo.
Ao mesmo tempo, é importante também que os cantores se desafiem em repertórios mais complexos, para a evolução do conjunto. - Estude teoria musical: Se você deseja se profissionalizar na música à capella, é importante investir não só na técnica, como também na teoria musical.
Aprenda a ler partituras, estude elementos como harmonia e ritmo. Esse conhecimento vai ajudar a aprimorar o seu desempenho. - Faça ensaios regulares: Antes de encarar um “jogo”, é preciso treinar, certo? Na música isso também é fundamental!
O ensaio traz maior segurança e melhora suas habilidades, além de sua sintonia com o grupo.
Divirta-se: Por mais que você cante profissionalmente, é importante também gostar do que está fazendo. Divirta-se, relaxe, saia de vez em quando com o grupo para descontrair.
E quando estiver no palco, transforme o seu trabalho em uma atividade prazerosa.