Teoria musical: um aprendizado indispensável para os músicos

Cantar e tocar um instrumento são atividades muito prazerosas, mas para quem deseja se aperfeiçoar e se profissionalizar na música, o aprendizado da teoria musical se torna inevitável.

Apesar disso, muita gente prefere fugir do estudo teórico, acreditando que só a prática basta. Mas não é o caminho recomendável.

Existem, é claro, os autodidatas, que aprendem sozinhos muitas habilidades musicais sem conhecimento de teoria. Porém, isso não deve ser desculpa para evitar a parte que, por muitos, é considerada espinhosa no aprendizado.

O famoso violonista, compositor e cantor João Bosco, com longa carreira na MPB, por exemplo, afirmou em diversas entrevistas que aprendeu sua arte por conta própria. Já fez, inclusive, arranjos vocais. Detalhe: tudo isso foi realizado sem que ele soubesse noções teóricas de harmonia ou de partituras

Mesmo assim, ele encoraja fortemente os músicos a se aprofundarem no arsenal teórico da música e defende a existência de uma educação musical formal no currículo escolar.

E por que ele defenderia algo que não teve na prática? João Bosco cresceu num ambiente familiar musical, o que facilitou a descoberta de seu talento. Mas ele mesmo admite que o conhecimento meramente intuitivo da música não traz vantagens.

E vamos combinar: genialidade não é algo que se encontra em qualquer esquina, certo? Aliás, até os gênios reconhecem o valor do conhecimento no aperfeiçoamento das habilidades.

Para o compositor, a educação musical formal despertaria outros talentos que, por falta de um direcionamento ou apoio, enveredaram para outras profissões.

Definição de teoria musical

Mulher estudando teoria musical em uma apostila

Quando falamos em teoria musical, a expressão soa de forma um tanto quanto abstrata. O que seria isto exatamente? Há um consenso no que é ensinado?

Podemos, de forma resumida, dizer que teoria musical se refere ao estudo de tudo o que diz respeito à estruturação e execução da música: melodia, ritmo, solfejo, harmonia, ornamentos, notação ou grafia musical, escalas e tonalidades.

Todos os itens citados estão incorporados no que chamamos de “teoria básica da música”.

Entretanto, podemos ampliar essa definição, já que a música, enquanto ciência, envolve um espectro ainda maior.

Por esta razão, é possível também falar em “teoria geral da música”. Neste caso, incluímos, segundo a obra “Teoria da Música”, de Bohumil Med, diversas disciplinas, como instrumentos musicais, instrumentação, percepção melódica, arranjo, orquestração, pedagogia musical, psicologia da música, história da música, acústica musical, composição, regência e fisiologia da voz.

Um músico que domine todas essas vertentes é, sem dúvida, um profissional completo. Mas se souber ao menos a teoria básica, que traz desde conceitos simples a muito complexos, já terá dado um passo enorme em sua formação e terá uma excelente bagagem para atuar profissionalmente.

Evolução no aprendizado de teoria musical

homem tocando teclado lendo partitura

O primeiro passo no aprendizado da teoria musical é o entendimento dos elementos básicos de uma partitura. Ou seja, o aluno vai começar a se familiarizar com a notação ou grafia da música.

Isto ocorre porque diversos conceitos e mesmo a prática de um instrumento associada à leitura musical passam necessariamente pela compreensão das figuras musicais, claves, ritmo, solfejo, ornamentos etc.

Em escolas e conservatórios de música as noções rudimentares de partituras vêm antes mesmo do aprendizado prático, apesar de historicamente a prática preceder o desenvolvimento da teoria.

Posteriormente, com o domínio de aspectos teóricos gerais, a teoria e a prática passam a caminhar juntas, uma ajudando a outra.

Nas primeiras aulas, os alunos aprendem a identificar as figuras musicais:

  • Semibreve
  • Mínima
  • Semínima
  • Colcheia
  • Semicolcheia
  • Fusa
  • Semifusa

Eles também começam a se familiarizar com os símbolos das pausas correspondentes a cada uma dessas figuras, assim como os seus respectivos tempos.

Junto a isso, o aluno estuda o ritmo, sendo o Método Pozzoli um dos mais conhecidos e eficazes, nesse sentido. Por este método é possível entronizar noções rítmicas sem a melodia.

Mas há também as aulas de solfejo. Nesta situação, o estudante se vê diante do desafio de executar não só o ritmo, como também cantarolar a altura das notas.

Com a prática reiterada, dá para decifrar a melodia na leitura da partitura e fazer os intervalos entre as notas, mesmo sem nunca ter escutado aquela sequência melódica.

Unindo teoria musical à prática

grupo de crianças aprendendo teoria musical sentadas em volta do professor enquanto ele toca violão

A partir da compreensão básica do ritmo, figuras musicais e altura das notas na partitura, o aluno começa a utilizar as notações para tocar seu instrumento – ou cantar.

Claro que, no início, a leitura musical não vai ser rápida ou imediata. É preciso se acostumar e praticar muito, além de entender como seu instrumento musical executa esta ou aquela nota.

Outros conceitos

O aprendizado da teoria musical avança, então, para outros conceitos, como tons, escalas e harmonia, o que inclui o conhecimento de como são formados os acordes e sua execução.

O tom é determinado pela própria armadura de clave e a escala musical. Sobre isso, é importante citar o chamado sistema tonal, utilizado predominantemente na música ocidental desde o período barroco. Em tal sistema há uma hierarquia entre as notas, em que a chamada “tônica” vai indicar o tom da canção.

A “armadura”, por sua vez, está localizada ao lado da clave, que pode ser de Fa, Dó ou Sol. Dependendo do número de sustenidos ou bemóis na armadura, conseguimos de cara perceber duas possibilidades de tons. Se não houver acidentes, por exemplo, teremos Dó maior ou Lá menor. O que vai determinar se é maior ou menor é a escala musical.

O domínio de tons, escalas e harmonia permite ao músico fazer improvisações, as quais sempre impressionam positivamente os espectadores de um show.

Divergências teóricas

Figuras musicais sobrepostas em uma folah de papel com partitura

Há, é claro, muito mais acerca da teoria musical. Demos apenas algumas pinceladas num assunto que é bastante vasto e cujo aprendizado exige anos de estudo e dedicação.

Além disso, vale destacar que nem todos os conceitos são consenso entre os estudiosos.

O compasso musical, por exemplo, que indica como a música será dividida na partitura, pode ser estudado de forma distinta nas teorias francesa e alemã. No Brasil, a francesa é a mais usual.

Até mesmo a grafia dos acordes não é uma unanimidade. Quer ver um exemplo? Veja, abaixo, duas maneiras de escrever o acorde de Re maior com sétima maior:

  • D7+
  • D7M

Permaneça firme nos estudos!

A boa notícia é que tais divergências ou conflitos nas abordagens teóricas não impedem o aluno de aprender teoria musical.

São detalhes que não irão atrapalhar seus estudos, até porque as escolas de música seguem uma metodologia. Então, se você entrar numa escola assim, siga a metodologia apresentada e vá até o fim! Depois, você pode, por curiosidade, ler sobre outras abordagens.

Curiosamente, a Revista de Musicologia da Universidade Federal do Paraná tem, inclusive, um breve artigo sobre o assunto, intitulado “Propostas de Teoria Musical Comparada”, de Luiz E. Castelões. Para ler, é só clicar aqui.

E você? Já iniciou seus estudos de teoria musical? Conte sua experiência pra gente!

Caso ainda não tenha se aventurado na compreensão dos segredos da linguagem musical, procure uma escola de música ou conservatório mais próximo de sua localidade.

Temos certeza de que isso irá agregar muito no aprendizado do canto ou de algum instrumento musical.

Boa sorte e até a próxima!

About Luciana Amaral

Luciana Amaral é cantora profissional, jornalista, revisora e redatora freelancer. Já participou de vários cursos de canto, como o Modern Mix Voice, do professor Caio Freire; Solte Seu Belting, do professor André Barroso; Canto Popular, durante o Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília (Civebra); e Congresso Online de Voz Cantada, realizado pela Faculdade Novo Horizonte e pela professora Flávia Caraíbas. https://www.instagram.com/luciana.amaral_cantora/

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