O que é o falsete e como aplica-lo com maestria

Mesmo sendo coisa já antiga, o falsete nunca saiu de moda. Sua beleza e suavidade acariciam os ouvidos, tornando a técnica uma queridinha de todo cantor.

No entanto, sendo resultado de prática e estudo, o falsete mal aplicado acaba virando meme. Você com certeza se lembra da versão cômica criada pelo Timbu Fun, não é mesmo? Olha lá:

Brincadeiras à parte, contar com o falsete no repertório técnico é de extrema importância.

Por tal hoje entenderemos um pouco mais sobre sua origem e natureza. Em seguida, deixo de presente, para você, um guia de como executar com maestria. Que tal? Então, vamos lá.

A origem do falsete

O falsete nasceu há muito tempo, com o movimento musical barroco. Falamos, portanto, de meados do séc. XVIII.

Naquele contexto, uma voz de baixa projeção e muita ventilação era desejável para motivar determinadas sensações. Podemos listar tranquilidade e carinho como parte delas.

Chama-se, então, “falsetto” (em italiano), ou seja, “falsinho”, em tradução livre. Eis a origem do termo: voz falsa.

Ganhando espaço, o falsete passou a ser integrado, também, na ópera. Trechos específicos, que não demandavam volume, tornavam-se emotivos com o uso da técnica.

Hoje em dia, do gospel ao metal melódico, muitíssimos estilos usam o falsete em pianíssimos, das canções. Transmite-se, por meio do falsete, cansaço, tristeza, dor ou, mesmo, perda das forças, paixão e delicadeza.

O falsete no raio-X: sua natureza

O nome e a origem você já conhece. Agora, precisamos entender com profundidade a que nos referimos quando falamos do falsete. E fica fácil usando exemplos.

Já ouviu Bee Gees? E Roupa Nova? As músicas não são calorosas, suaves e emotivas? Os músicos não cantam com vozes aveludadas, macias? Pois bem. Veja só:

No caso de How deep is your love, o falsete está mais represente no refrão. Em Corações psicodélicos, na introdução e no coro de vozes. O solista não o utiliza.

E o que percebemos?

Aplicado, o falsete se comporta com as seguintes características:

  • Pescoço relaxado;
  • Queixo levemente retraído;
  • Projeção pelo céu da boca.

Internamente, podemos dizer que o falsete:

  • Emite muito ar;
  • Gera pouquíssima resistência, pelas cordas vocais;
  • Funciona como voz de cabeça mais aguda que o habitual;
  • Vale-se do trato vocal bastante “esticado”.

Com isso, temos essa voz aveludada e macia, de baixo volume, porém bastante aguda. E é justamente para tal que serve o falsete: suavidade em agudos extremos.

Você se lembra de quando estudamos o belting? Aqui, fazemos o absurdo oposto.

E não se engane: o falsete serve tanto para vozes masculinas quanto femininas. Veja só Mariah Carey valendo-se da técnica repetidas vezes:

Ocorre, apenas, que vozes masculinas dependem mais do falsete que femininas. Por isso é tão mais fácil encontrar bons exemplos tratando-se de cantores homens. Mais alguns, para exemplificar:

Uma analogia, para fixação

Se você conhece um violão ou outro instrumento de cordas, sabe que a tensão define a sonoridade.

Uma corda “frouxa” soa grave e rouca. Contudo, se a esticarmos demais, ela vai soando mais aguda e discreta. Num ponto extremo, ela perde presença, mas soa agudíssima.

O mesmo ocorre com nosso falsete. O falsete seria, portanto, nesta comparação, a corda bem esticada. Poderia, também, soar como as casas finais do braço do violão:

  • Pouca presença;
  • Tonalidade agudíssima.

Basicamente, o falsete possui essas características.

Agora, passemos ao conhecimento de como aplicar o falsete em nosso canto. Para encurtar a conversa, vou passar algumas matérias de suporte, tudo bem?

É bastante importante que você as visite, para crescer na teoria como um todo. Estudo e dedicação são chave para qualquer técnica vocal. Não apenas para o falsete. Combinado?

O falsete na prática

Chegou o momento tão esperado: descobrir como aplicar o falsete com maestria. E, como de costume, você não vai se decepcionar.

Antes de qualquer coisa, respiração é crucial. E, por respiração, refiro-me ao movimento diafragmático como guia das inspirações e expirações.

Outro dia, falei bastante sobre exercícios de respiração orientada ao canto. Leia com calma e atenção. É extremamente importante dominar essa técnica para produzir um bom falsete.

Respirando bem, é importante conhecer a distinção entre voz de peito e voz de cabeça. Lendo a matéria sobre belting (apontada acima), você entenderá como o núcleo da voz funciona.

Nesse momento, conhecer o leque vocal possibilita identificar o momento adequado de transição.

E lembre-se: o falsete não fere, não incomoda nem arranha. E é por isso que utilizamos sua grandeza para produzir agudos fora de nossa capacidade de voz de peito.

Valendo-se de suporte instrumental

Você não precisa saber tocar um instrumento. Entretanto é bastante bom contar com um para treinar o falsete.

Seja um xilofone de brinquedo ou um violão, toque uma nota e, ouvindo-a, cante junto. Pode, até, fechar os olhos, para manter a atenção centrada.

Mais tarde, toque uma nota mais aguda. Cante junto. Em determinado momento, sua voz natural não conseguirá chegar até ela. Aqui começa a ergonomia do falsete.

O papel do queixo

O falsete usará bastante o céu da boca. Todavia um de seus pontos centrais repousa no maxilar. Mais especificamente no queixo.

Ao se deparar com a nota “impossível”, relaxe seu tórax e pescoço. Respire bem e profundamente antes de começar.

Relaxado, busque “puxar” o queixo para trás, enrijeça um tanto a língua e, exalando bastante ar, deixe sair a nota agudíssima com sua voz “falsa”. É como se estivesse imitando a voz de alguém.

Dependendo do caso, você pode perfeitamente adequar a modelagem para seu falsete. Pode ser mais confortável de outro modo. Aqui, você é quem manda.

O que importa, de fato, é que a nota aguda saia suave, afinada e sem agredir sua laringe.

De começo, use notas isoladas, e busque cantá-las usando uma vogal. O “i” ou o “u” são excelentes, para começar.

Treinando com canções reais

É importante saber que você só deve cantar com o falsete depois de encontrar seu ponto preciso. Caso contrário, sua voz e seu trato vocal podem ser danificados.

Contudo, quando chegar a este ponto, vale muito a pena começar a treinar com canções de fato.

Apenas evite pular etapas. A pressa, como você já sabe, é inimiga da perfeição. E nós queremos que seu falsete seja perfeito, tudo bem?

Grave-se para examinar carências

Como costumo falar sempre, é bom que estejamos prontos para sermos ouvidos. E sabemos a hora certa quando nós mesmos gostamos de como soamos.

Entretanto não somos capazes, por uma série de questões, de ouvir nossa própria voz. Pelo menos não como soa para os demais.

E essa barreira pode ser facilmente superada com um celular ou gravador. E não cabe vergonha ou timidez. Grave-se, ouça sua própria voz e, se for o caso, corrija qualquer deficiência.

A perseverança é a chave para o sucesso. Como disseram grandes sábios da história, talento é apenas 1% dom ou inspiração. Os outros 99% são resultado da “transpiração”. Então, transpire!

Saiba a hora certa de usá-lo

O falsete é bastante específico. Como busca transmitir emoções, pode acabar ficando cansativo, se usado em excesso.

Por isso, ouça vários cantores de falsete. Coma, bebe, durma e viva canções que ama e possuem falsete. Assimile o momento ideal.

Quando estiver em suas apresentações, use-o como um trunfo. Não gaste demais nem deixe faltar. Ilumine suas músicas com essa lindíssimas técnica. Mas sempre mantendo a sobriedade.

Deste ponto em diante, tudo está em suas mãos. Com paciência e persistência, exercite seu falsete e sua respiração. Cante e, com afinco, busque, também, encantar. Sei que você pode!

Caso tenha surgido alguma dúvida, basta deixar um comentário. Será um imenso prazer te ajudar a conseguir o seu melhor.

E não deixe de compartilhar este material com seus amigos e colegas. Nós, cantores, devemos difundir essa nossa arte com amor e de peito aberto.

Volte sempre! Esteja conosco! Nosso maior prazer é ajudar você a realizar seus sonhos.

Evoé, meus amigos! Até a próxima!

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