Para cantar bem, não é preciso necessariamente ter um “dom”. O essencial é dedicar-se ao aprendizado de técnicas específicas e realizar muitos exercícios.
Um dos aspectos que um bom cantor deve ficar atento é a ressonância vocal, algo que tem tudo a ver com uma voz projetada, equilibrada e bonita.
Mas o que vem a ser ressonância vocal?
Antes de estabelecermos uma definição do termo, vamos antes esclarecer os três elementos responsáveis pelo canto. Confira:
- Fluxo de ar – Mesmo que você seja um cantor amador, já sabe que, para cantar, é preciso fôlego, certo? O ar é o elemento primário do canto. Sem ele, nem falar seria possível. Para cantar bem, é necessário que esse fluxo aéreo seja firme e sem oscilações. Além disso, o intérprete deve saber controlar a saída de ar, principalmente na hora de entoar frases mais longas.
- Fonte – No canto, a fonte é a área da laringe onde se encontram as pregas vocais. No momento da expiração, o ar bate nas pregas, que vibram e geram o chamado “som fundamental”.
- Filtro – Também chamado de “trato vocal” ou “caixa de ressonância”, o filtro é onde moldamos nossa voz a partir do som fundamental gerado pelas pregas vocais.
Significado de ressonância vocal
Agora fica mais fácil entender o que é ressonância vocal. E, para isso, vamos fazer uma analogia com um instrumento musical, o violão.
Assim como nós, o violão tem uma caixa de ressonância, que reverbera o som gerado pelas cordas ao serem tocadas.
Sem a caixa, as cordas por si só não produzem muito som. Se você pegar uma delas, deixá-la bem esticada e tocá-la, é possível que saia alguma nota, mas com um volume tão baixo, que fica praticamente inaudível.
Da mesma forma, nós precisamos de uma “caixa” para o som fluir. No nosso caso, temos o “trato vocal”, composto pela boca, língua, palato duro, palato mole e faringe (formada pela nasofaringe – ou rinofaringe –, orofaringe e hipofaringe – ou laringofaringe).
O trato vocal é passível de ser moldado em formatos – ou “shapes” – que fiquem adequados ao som que desejamos no canto.
No interior de nossa “caixa de ressonância” há vários espaços por onde o som pode se propagar. Se você levantar muito a laringe, por exemplo, a tendência é que o som saia mais agudo. No entanto, haverá sensações de aperto e tensão, o que não é desejável no canto.
Para fazer bons agudos, há outras estratégias muito mais efetivas, como deixar a laringe em posição mediana, manter o palato mole alto e explorar as cavidades de ressonância, a fim de que o som flua e saia, por meio da ressonância vocal, com bastante projeção.
Lembre-se: o som que não encontra espaço, não irá sair com volume. Sua caixa de ressonância pode e deve ser usada.
Já se você mantiver a laringe baixa, o espaço interno de seu trato vocal irá aumentar, tornando-o mais apto a ressoar as notas graves.
Veja que, dependendo do ajuste que você fizer em sua “caixa”, o som irá sair diferente. É você quem escolhe. E no canto esses ajustes podem ser memorizados e aperfeiçoados com o treinamento contínuo.
Diante do que foi explanado até o momento, podemos, portanto, definir ressonância vocal como o processo de amplificação da voz que já foi previamente moldada no trato vocal.
Os três espaços de ressonância vocal
No livro “Belting Contemporâneo”, o maestro Marconi Araújo enumera três espaços diferentes – ou ressonadores – no nosso filtro, para que a ressonância vocal aconteça: a laringofaringe (ou hipofaringe), a orofaringe e a rinofaringe (ou nasofaringe).
A ressonância orofaríngea é a mais utilizada no Belting, técnica muito comum entre cantores pop, gospel e do teatro musical.
Esses três ressonadores, combinados a ajustes de posicionamento da língua, do palato mole e da laringe, além da abertura da boca, fazem com que o cantor possa imprimir diversas características timbrísticas em sua voz.
Portanto, conhecer e moldar esses mecanismos são importantes na definição estética vocal e na interpretação de vários estilos musicais.
E as possibilidades de ajustes são tantas, que hoje temos até mesmo os chamados cantores “crossover”. São intérpretes que dominam técnicas tão avançadas, que conseguem ajustar seu trato vocal, seus músculos laríngeos e sua respiração de forma a fazerem tanto o canto lírico quanto o popular.
E o melhor: sabem projetar suas vozes com brilho e equilíbrio, princípios básicos da boa ressonância vocal.
Artistas que interpretam personagens tanto em óperas quanto em musicais são os melhores exemplos de cantores “crossover”.
Poderíamos dizer que são “atletas da voz”, não só pela capacidade técnica em transitar em dois tipos de canto tão diferentes, mas também pelo fato de suportarem horas de ensaios e agenda contínua de apresentações.
Exercícios para uma boa ressonância vocal
Para manipular seu trato vocal, não adianta pensar apenas de forma intuitiva. Há exercícios específicos que ajudam você a encontrar os espaços em seu filtro. Assim, temos uma ressonância vocal com som projetado, firme e equilibrado.
A seguir, enumeramos três pequenos exercícios que, se praticados diariamente, vão ajudar você a entender e a acessar mais facilmente as suas cavidades de ressonância:
- Humming – Escolha uma nota confortável e entoe “Hummmm” com a boca fechada durante uns 2 minutos. Sinta o som reverberar em sua cabeça, sem pender muito para o nariz. A ideia é buscar o equilíbrio. Uma dica é levantar as sobrancelhas e baixar um pouco o maxilar, para encontrar mais espaço interno.
- Inspiração profunda – imagine que você está cheirando uma flor. Comece a inspirar vagarosamente e tente projetar o ar para a parte de trás da cabeça, num movimento ascendente. Quando conseguir, segure um pouco a respiração e, depois, solte o ar vagarosamente. Repita o processo por uns 2 minutos.
- “Boca de sapo” – Encha bem as bochechas e sopre devagar, mas fazendo pressão, como se estivesse tentando segurar o sopro. Repita o procedimento por 1 minuto e, posteriormente, faça o mesmo exercício com som, numa nota musical à sua escolha, por mais dois minutos.
Dicas finais
E para você que já leu esse artigo sobre ressonância vocal e colocou o que falamos em prática, fica mais uma dica valiosa: logo após os exercícios propostos, faça um aquecimento vocal.
Uma boa ideia é iniciar com vibração de lábios, utilizando primeiramente uma nota fixa. Posteriormente, faça a vibração com notas variadas, indo do grave ao agudo e vice-versa. Vocalises também são muito bem-vindos.
Depois, experimente cantar alguma música que você gosta já explorando as suas cavidades de ressonância.
Temos certeza de que, com essas sugestões, seu canto vai melhorar bastante. De qualquer forma, sempre é bom pedir auxílio de seu professor ou vocal coach. Boa sorte e bons estudos. Até a próxima!