Sabe aquele conjunto de notas musicais tocadas de forma simultânea, e que fazem um som bonito e harmonioso? São os chamados “acordes”.
Mas você também pode tocar essas mesmas notas uma por uma. Temos, então, o “arpejo”, que dá um efeito muito interessante na execução da música.
A ideia é que o acorde se transforme numa linha melódica. Neste caso, as notas devem ser tocadas de maneira rápida e sucessiva, dentro do espaço de tempo previsto para determinado trecho de uma composição.
O estudo dos arpejos, assim como das escalas, é uma ótima maneira de adquirir agilidade na execução do instrumento.
Também são ferramentas essenciais há hora de fazer improvisos nas peças musicais, seja cantando ou tocando.
Ornamento x forma de execução
Segundo alguns teóricos, o arpejo pode ser definido como um dos vários ornamentos existentes e possíveis de se inserir em peças musicais.
Ou seja, é um tipo de “enfeite” que podemos colocar nas canções, seja para rebuscá-las ou para fazer com que o músico interprete a composição de uma forma peculiar.
Porém, de acordo com o músico Bohumil Med, em sua obra “Teoria da Música”, o arpejo pode ser compreendido mais como uma forma de execução do que como um ornamento propriamente dito.
Seja como for, como essa estrutura é realizada a partir da execução melódica de acordes, a compreensão mais ampla do termo só é possível se o estudante de teoria musical entender, ao menos, o básico sobre harmonia e como os acordes são formados.
Formação de acordes
Então, para facilitar, vamos dar uma mãozinha e mostrar um pouquinho sobre o tema, a fim de que haja melhor entendimento do conteúdo.
Tomemos como exemplo o acorde de Do Maior (C). Trata-se de uma tríade, ou seja, possui três notas. São elas: Do, Mi e Sol. Veja como fica na partitura:
E aqui, cabe uma observação: não existe acorde de duas notas. Tem que ter três ou mais!
Esta formação não é um conjunto de notas escolhidas a esmo. Deve haver uma estrutura intervalar composta pelo menos da tônica – cuja nota dá nome ao acorde – terça e quinta. Em outras palavras, são o primeiro, terceiro e quinto graus.
Temos, portanto, o Do como tônica; seguido de sua terça, o Mi; e a quinta, que é o Sol.
Já se for um acorde de Do menor (Cm), a estrutura muda um pouco: Do, Mi bemol e Sol. Veja que na terça diminuímos meio tom. Chamamos isto de “terça menor” ou “terceiro grau menor”.
Até o momento, falamos da formação básica de acordes maiores e menores, dando como como referência o Do. Mas é claro que você pode montar essas estruturas utilizando outras notas como tônicas dos acordes.
Assim, ao seguirmos a lógica dos intervalos que fizemos com o Do, montamos acordes de La maior (A), Mi menor (Em), Sol sustenido maior (G#) etc.
Existem, ainda, outros tipos de acordes, mais complexos, mas não iremos esmiuçá-los aqui. O importante é você ter entendido ao menos o conceito geral.
E o arpejo, onde entra nessa história?
Agora, experimente tocar algum acorde em um instrumento. Lembre-se que, neste caso, as notas devem ser executadas juntas.
Em seguida, faça uma outra experiência: toque cada nota desse mesmo acorde separadamente. Se for Do maior (C), faça o Do, depois o Mi e termine com o Sol. Pronto! Você acabou de praticar o arpejo.
Portanto, se você consegue montar um acorde qualquer no instrumento, certamente vai aprender a como arpejá-lo.
Confira, a seguir, como o arpejo aparece na partitura. Seu símbolo é uma linha ondulada vertical inserida logo antes do acorde, indicando ao instrumentista que a execução das notas não deve ser simultânea, mas sequencial:
Diante disso, provavelmente você deve estar se perguntando: existe uma sequência de qual nota vem primeiro ou podemos escolher a ordem que quisermos? É isso que veremos agora.
Tipos de arpejo
Dependendo da ordem das notas tocadas, o arpejo recebe uma classificação diferente. Vamos entender essas denominações pensando no arpejo feito a partir do acorde de Do maior (C):
- Ascendente – o arpejo se inicia pela nota mais grave e segue até a mais aguda: Do – Mi – Sol. É o jeito mais comum de arpejar.
- Descendente – o arpejo começa pela nota mais aguda e vai até a mais grave: Sol – Mi – Do.
- Conjunto – as notas são tocadas em sequência, podendo partir tanto da nota mais grave quanto da mais aguda: “Do – Mi – Sol” ou “Sol – Do – Mi”.
- Disjunto – todas as notas do acorde são tocadas, mas não há um padrão sequencial. A ordem é aleatória: “Mi – Sol – Do”, “Sol – Do – Mi”, “Do – Sol – Mi”, “Mi – Do – Sol” etc.
- Simples – o arpejo é limitado a uma oitava.
- Composto – o arpejo pode abarcar mais de uma oitava.
Dicas de estudo do arpejo
Já falamos que compreender a formação de acordes é muito importante para o entendimento do arpejo. Junto a isso, vem o conhecimento das notas e intervalos.
Além desse arcabouço teórico, damos, a seguir, algumas dicas para turbinar seus estudos:
- Pegue uma música que você conhece e tente arpejar os acordes dentro do ritmo proposto. Se for o caso, utilize um metrônomo.
- Faça arpejos em mais de uma oitava. É uma ótima forma de você explorar as possibilidades de seu instrumento musical.
- Além de tocar arpejos no instrumento, experimente arpejar cantando. Ajuda muito a trabalhar sua percepção, afinação e ritmo.
Obras musicais com arpejos
Para finalizar, vamos, agora, conhecer alguns exemplos de composições que utilizam arpejos e ficaram especialmente conhecidas pelo uso desse recurso:
- Concerto para piano e orquestra em La menor (Op. 54), de Robert Schummann: confira, no seguinte trecho da peça musical, a linha vertical ondulada (símbolo do arpejo na pauta) indicando quais os locais o pianista deve executar o arpejo. Essa linha se estende da clave de Sol, onde estão as notas mais agudas, à clave de Fa, que traz as notas mais graves.
- If I Ain’t Got You, de Alicia Keys: a introdução – que se repete no final – é toda composta de arpejos. É uma marca registrada dessa canção. Se essa música fosse iniciada no formato de acordes, perderia bastante seu impacto, concorda?
- Stairway to Heaven, de Led Zeppelin: esse clássico do rock dispensa apresentações. Sua introdução é feita de uma sucessão de acordes dedilhados na guitarra, ou melhor, arpejos.
- Arpeggios from Hell, de Yngwie Malmsteen: o próprio título da música – traduzido como “Arpejos do Inferno” – já é explícito quanto ao uso dessas estruturas, que transformam acordes em linhas melódicas.
O compositor, um músico sueco, diz que o nome se deve ao fato dos arpejos da canção estarem em um nível extremo de dificuldade. Portanto, um verdadeiro desafio, mesmo para guitarristas profissionais.
Muito bom obrigdo pela oriêntação pelo amor de nos ajudar falando sobre o arpejo: a melodia dos acordes.