Apogiaturas: ornamentos simples para realçar a melodia

Hoje, muitos cantores se inspiram em intérpretes norte-americanos para refinarem sua interpretação. E inserem diversos ornamentos, como as apogiaturas, sobre a melodia-base. Isso é muito comum em gêneros musicais como o gospel, o soul e o blues.

Mas você deve estar pensando: “O que são ornamentos na música e o que são as apogiaturas?”.

É o que vamos esclarecer a seguir. Também iremos mostrar por que esses elementos, ao serem inseridos nas canções, podem tornar a melodia ainda mais bonita e interessante.

O papel dos ornamentos na música

Em primeiro lugar, imagine a sala de sua casa. Você coloca um sofá, uma estante e uma smart TV para curtir seus filmes da Netflix. Mas parece que falta alguma coisa… Ah, é o quadro na parede!

Essa pintura artística, por mais incrível que seja, não vai fazer diferença na hora de usufruir das coisas em sua sala. Mas certamente vai deixar o ambiente mais bonito, concorda?

Na música temos também algo equivalente ao “quadro na parede”: são os chamados “ornamentos”.

São “enfeites” que você pode inserir na canção, deixando-a esteticamente melhor, com mais refinamento, brilho e emoção. E como todo enfeite que se preze, é preciso ter parcimônia. Nada de exageros!

silueta de cantor em foto preto e branca fazendo ornamentos vocais

Existem vários tipos de ornamentos, como os melismas, os vibratos e as apogiaturas, que comentamos no início desse artigo. São muito utilizados na música norte-americana, até por uma questão histórica e cultural.

Determinados gêneros musicais que se desenvolveram nos Estados Unidos ficam muito bem executados com a inserção dessas estruturas.

Quem estuda canto, inclusive, já tem familiaridade com esses termos. Afinal, com a internet, as pessoas passaram a ter mais acesso a novos recursos e técnicas vocais avançadas, as quais se tornaram mais conhecidas.

Na própria música brasileira já vemos o resultado disso, ao observarmos a performance de cantores em gêneros variados, que vão do pop ao sertanejo.

Para não nos alongarmos demais, nesse texto vamos nos ater apenas a um dos ornamentos existentes na música, a apogiatura.

Definição de apogiatura

As chamadas apogiaturas podem ser definidas como notas secundárias inseridas antes de notas já constantes na melodia-base.

O intervalo em relação à nota principal pode ser de um semitom ou um tom. Mais do que isso, é chamado de “floreio”.

O nome “apogiatura” vem do italiano appogiare, que quer dizer “apoiar”. E, de fato, refere-se a uma nota que apoia outra, mas com efeito de ornamentação.

Então, se você estiver cantarolando um La, por exemplo, você pode ornamentá-lo, fazendo a sequência Sol-La ou Si-La. A duração da melodia permanece a mesma, já que parte do tempo destinado à nota principal é transferida à secundária.

Na partitura, as apogiaturas são representadas como figuras musicais menores apoiadas nas principais. Veja como fica:

partitura com representação de apogiaturas

O exemplo acima é de uma apogiatura longa superior, ou seja, o ornamento dura metade da nota real e está um intervalo acima.

Caso estivesse um intervalo abaixo, seria uma apogiatura longa inferior. A estrutura na pauta musical acima equivale, em termos de duração, a duas colcheias ligadas.

Já a apogiatura curta dura geralmente um quarto da nota real e a figura musical do ornamento aparece cortada por um traço oblíquo.

Porém, se o andamento for mais lento, essa duração será ainda mais rápida.

Confira na pauta abaixo uma apogiatura curta inferior:

representação de apogiaturas curta

Apesar de serem ornamentos muito comuns no canto, as apogiaturas também podem ser feitas pelos instrumentos musicais, como o violão e o piano e o saxofone.

Apogiaturas x melismas

Muita gente confunde as apogiaturas com os melismas, os quais são também bastante utilizados no canto popular. Contudo, há algumas diferenças básicas, que vamos explanar agora.

A apogiatura ornamenta apenas a nota vizinha, que é a nota real, a qual integra a melodia-base.

Já o melisma refere-se a uma linha melódica criada com sílabas finais de palavras. Por exemplo: você pode cantar “amor” e manter a sílaba “mor” numa única nota. Ou pode ornamentá-la, entoando “mor” em várias notas executadas rapidamente e ligadas umas às outras. Isso é melisma.

Percebe como é diferente um ornamento do outro?

A confusão de conceitos ocorre porque são definições próximas e ornamentos que muitas vezes se parecem. Além disso, vale destacar que um melisma pode ter várias apogiaturas.

Artistas que utilizam apogiaturas em performances

Vários artistas da cena musical usam e abusam de apogiaturas para dar uma nova “roupagem” às canções. Vamos ver alguns exemplos?

  • Lauryn Hill: essa cantora norte-americana ficou conhecida entre os brasileiros após o filme Mudança de Hábito 2. A canção “Joyful Joyful”, por exemplo, que faz parte da trilha sonora do longa-metragem e é uma adaptação de um clássico de Beethoven, mostra bem a destreza da intérprete na utilização de apogiaturas.
  • Mariah Carey: com muita habilidade em melismas, Mariah sabe também, é claro, fazer apogiaturas com maestria. Em um de seus vídeos, em que canta ao vivo “Vision of Love”, a intérprete entoa uma apogiatura em G#6, já no registro whistle. Não é para qualquer um.
  • Ed Motta: um dos mais versáteis e polêmicos artistas brasileiros, o famoso sobrinho de Tim Maia é dono de uma técnica vocal apurada e sabe utilizar os ornamentos na música. Vale destacar sua performance no sucesso de Rita Lee, “Caso Sério”, que ele gravou para o projeto “Um Barzinho, um Violão”. Em sua interpretação, as apogiaturas são facilmente identificáveis.
  • Leonardo Gonçalves: o cantor é conhecido pela sua potência vocal e habilidade na execução de melismas. Naturalmente, as apogiaturas também fazem parte de seu vasto repertório de técnicas vocais, como na canção “Sublime”.

Dicas para fazer apogiaturas

casal de cantores cantando com violão

Quer aprender a fazer apogiaturas no canto? Aí vão algumas dicas:

  • Aprenda bem a melodia da canção antes de tentar inserir apogiaturas: saber com segurança a melodia é essencial. É a base de tudo. Não dá para pensar em ornamentos sem sequer conhecer a linha melódica da música.
  • Pense na melodia-base e encontre espaços para os ornamentos: imagine uma música simples, como “Parabéns pra você”. Tente encontrar trechos onde você possa inserir alguma apogiatura. Brinque com essas e outras canções desta forma.
  • Treine seu ouvido: a apogiatura, como qualquer ornamento, não pode sair da harmonia proposta para a canção. Então, fique atento à estrutura da melodia, seu tom e acordes. 

Conheça outros tipos de ornamentos: saber outros ornamentos, como o vibrato, ajuda no aprendizado de apogiaturas, melismas e outras estruturas para realçar a canção. Invista nisso!


Se você deseja aprender mais sobre apogiaturas e outros ornamentos uma boa dica é fazer aulas de canto. Pense nisso!

Encerramos assim mais um artigo se você gostou do nosso conteúdo participe nos comentários logo aqui abaixo. Será um prazer conversar com você.

Um abraço e até mais!

About Luciana Amaral

Luciana Amaral é cantora profissional, jornalista, revisora e redatora freelancer. Já participou de vários cursos de canto, como o Modern Mix Voice, do professor Caio Freire; Solte Seu Belting, do professor André Barroso; Canto Popular, durante o Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília (Civebra); e Congresso Online de Voz Cantada, realizado pela Faculdade Novo Horizonte e pela professora Flávia Caraíbas. https://www.instagram.com/luciana.amaral_cantora/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *