Vocalises: exercícios essenciais para o canto

Quando aprendemos a cantar, precisamos, ao longo das aulas, executar os chamados “vocalises”.

Mas o que são esses vocalises? E quais as suas principais funções nas aulas de canto? É o que veremos agora.

O que são vocalises?

Antes de cantarmos, precisamos “acordar” a musculatura laríngea, para que ela responda de forma apropriada.

E também é necessário condicionar essa musculatura, a fim de que seja possível aumentar a extensão vocal e a resistência das pregas vocais, diminuir as quebras de registro, melhorar a afinação, entre outros objetivos.

Tudo isso é feito primeiramente por meio de aquecimento muscular laríngeo, seguido do treinamento vocal propriamente dito.

Professora de canto passando exercícios de vocalises para seu aluno

Para a execução de ambos os procedimentos, é preciso lançar mão dos vocalises, os quais podem ser definidos como exercícios vocais realizados sobre escalas musicais.

Para isso, são entoadas combinações de vogais ou vogais e consoantes.

Não são considerados vocalises os exercícios feitos somente com consoantes, como é o caso da vibração labial ou de língua – som de “brrrrr” ou “trrrrr”. Mas trazem objetivos similares.

O Dicionário Grove de Música, publicação com mais de 10 mil verbetes sobre temas relacionados ao universo musical, elucida a questão e define vocalise como “exercício vocal ou peça de concerto, sem texto, cantada sobre uma ou mais vogais”.

De acordo com o referido dicionário, professores de canto utilizam o recurso dos vocalises nas aulas desde o século XVIII.

Três categorias de vocalises

Na dissertação de mestrado “O Vocalise no Repertório Artístico Brasileiro: aspectos históricos, catálogos de obras e estudo analítico da obra Valsa-vocalise de Francisco Mignone”, a autora Patrícia Cardoso Chaves propõe uma definição mais ampla.

Para ela, os vocalises podem ser classificados em três categorias: os de aquecimento e de aperfeiçoamento técnico, os de estudo e os artísticos.

A primeira categoria refere-se ao que mencionamos anteriormente, ou seja, os exercícios vocais tradicionais feitos para alunos de canto.

A execução desses vocalises não deve ser algo aleatório. O professor ou vocal coach deve propor um treinamento adequado e específico às necessidades de cada aluno nas aulas de canto.

Já a segunda categoria tem como mote o aprimoramento no canto erudito, sobretudo o Bel Canto, referente à ópera italiana. Para esse treinamento, são utilizadas pequenas obras musicais específicas para cada classificação vocal.

Professora dando aula de canto para uma menina

Na monografia “Vocalises para iniciação ao canto: a utilização do aparelho vocal como instrumento de performance musical”, a autora Joyce Tenório da Rocha comenta que há outros vocalises de estudo, além daqueles voltados ao Bel Canto. Na França, eram chamados de Vocalise-Étude.

Outros países, inclusive o Brasil, também criaram os seus, para atender necessidades específicas na execução de alguns estilos.

Uma das compositoras que trabalharam nesse sentido foi Carmen Silva Vasconcellos. Ela criou diversos estudos com vocalises especialmente direcionados a intérpretes de música brasileira.

Já em 1950, Cacilda Borges Barbosa compôs os Estudos Brasileiros para Canto, volumes 1 e 2, os quais deveriam, segundo a autora, ser executados sempre em vocalises e sem adaptação com letras.

vocalises artísticos

Cantor profissional tocando guitarra e cantando no palco

Os vocalises artísticos, por sua vez, que compõem a terceira categoria, trazem peças maiores, em que o cantor executa uma melodia utilizando uma vogal.

Exigem grande apuro técnico por parte do intérprete, pois a linha melódica utilizada é bastante complexa, sobrepondo-se ao acompanhamento. Além disso, sua função não tem cunho pedagógico, como ocorre nos vocalises de aquecimento e aperfeiçoamento técnico.

Apesar da grande maioria dos vocalises artísticos ser direcionada a sopranos, há peças também para registros mais graves.

Exemplos de vocalises artísticos

Diversas obras enquadradas na categoria de vocalises artísticos foram criadas principalmente a partir do fim do século XIX. Entre elas, podemos citar:

  • Vocalise Op. 34 no 14, de Sergei Rachmaninoff: esta obra-prima, criada por um dos mais célebres compositores russos, em 1912, já foi interpretada por várias cantoras ao longo das décadas. Porém, há também versões instrumentais da peça. Na época, Rachmaninoff havia composto esse vocalise especialmente para a soprano Antonina Nezhdanova.
  • A Recompensa, de Celeste Jaguaribe de Matos Faria: vocalise a duas vozes. Não há menção aos instrumentos de acompanhamento.
  • Bachianas Brasileiras no 5, de Villa-Lobos: composta em 1938, essa peça traz, em sua abertura, a ária Cantilena, em que a soprano deve executar uma longa melodia sobre uma vogal, acompanhada de violoncelos. Trata-se de um dos mais famosos vocalises artísticos do mundo.
  • Vocalise (Homenagem a Villa-Lobos), de Helza Camêu: obra musical de 1961, em que o canto é acompanhado por violino, viola e violoncelo.
  • Concerto pour une Voix, de Saint Preux: música clássica contemporânea escrita em 1969. A primeira e mais famosa intérprete da obra foi Danielle Licari, que utilizou a técnica do scat singing, caracterizado por improvisos melódicos e rítmicos com a voz.
  • Valsa-vocalise, de Francisco Mignone: composta em 1972 para a soprano Maria Lúcia Godoy, essa peça tem duas versões. A primeira traz o canto acompanhado por oito violoncelos. Já na outra versão, o piano faz o acompanhamento da melodia.

Exercícios vocais

Criaçan fazendo aula de canto - vocalises

Agora que você já compreendeu as três categorias de vocalises, chegou a hora de praticar alguns exercícios. Não iremos, é claro, entrar nos vocalises complexos, que são os de estudo e os artísticos.

Aqui, vamos nos ater à primeira categoria, com algumas dicas de exercícios vocais voltados às dificuldades mais comuns enfrentadas por alunos de canto.

Exercício isotônico

  • Feito a partir de duas notas distintas. O intervalo entre elas pode variar: meio tom, uma terça, uma quinta, etc.

    A execução desse tipo de exercício irá ajudar a ter um correto fluxo de ar no canto, maior afinação e a boa percepção das notas e seus intervalos. Serve tanto para aquecimento quanto treinamento vocal.

    Vamos iniciar pelo Dó central do piano. Cantarole Dó e Dó sustenido utilizando a sílaba “Bã”, se a meta for aumentar a potência vocal; ou “Fu”, caso o objetivo proposto for a suavidade na emissão da nota.

    Siga essa sequência, substituindo as notas por “Bã” ou “Fu”: Dó-Dó#-Dó-Dó#.

    Posteriormente, siga essa mesma lógica de intervalo, mas meio tom acima: Re-Re#-Re-Re#. E assim por diante. Vá até onde conseguir alcançar, mas não force. Volte pelo mesmo caminho, em direção ao grave.

Exercício isométrico

  • A isometria consiste em entoar uma determinada nota de forma constante. É um excelente exercício para trabalhar o fluxo de ar e cantar de forma equilibrada, sem que haja “vacilos” na voz em músicas que tenham notas mais longas.

    Novamente, vamos tomar como base o Dó central do piano. Em vez de dizer “Dó”, você irá cantarolar a vogal “a”. Tente manter esse “a” constante, sem descer e nem subir. Sustente até onde conseguir.

    Depois, faça um segundo exercício mantendo o “a” por 8 segundos em uma única nota. Suba meio tom e faça a mesma coisa.

    Continue até o agudo, numa nota cuja emissão seja confortável para você. Volte pelo mesmo caminho, até chegar na nota mais grave que conseguir, mas sem exagerar.

Exercício com arpejo

  • Os arpejos acontecem quando as notas de um acorde são tocadas separadamente. Inicie o arpejo utilizando as notas do acorde de Dó Maior, sendo o Dó central do piano a base para iniciar o exercício.

    Siga a sequência ascendente e descendente: Dó-Mi-Sol-Mi-Dó. Em vez de pronunciar as notas, faça apenas a vogal “i”, na hora de cantarolar. A seguir, faça o mesmo intervalo entre as notas, mas meio tom acima.

    Suba até a nota mais aguda que conseguir alcançar, mas sem forçar a voz. Depois, desça paulatinamente até o mais grave que alcançar.

    Lembre-se: use apenas a vogal “i”. Esse tipo de exercício auxilia na conexão dos registros, para que não haja quebra nas passagens entre graves e agudos.
  • Exercício com arpejo 2 – Faça a mesma sequência do exercício anterior, mas com a sílaba “nhe”.

E assim finalizamos mais um artigo, esperamos que esse tema vocalises tenha sido útil pra você! Nós adorariamos saber o que como foi sua experiência aqui no nosso site.

Então participe, deixe sua mensagem no campo de comentários abaixo.

Obrigada e até mais!!🙋🏽‍♀️

About Luciana Amaral

Luciana Amaral é cantora profissional, jornalista, revisora e redatora freelancer. Já participou de vários cursos de canto, como o Modern Mix Voice, do professor Caio Freire; Solte Seu Belting, do professor André Barroso; Canto Popular, durante o Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília (Civebra); e Congresso Online de Voz Cantada, realizado pela Faculdade Novo Horizonte e pela professora Flávia Caraíbas. https://www.instagram.com/luciana.amaral_cantora/

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *