Voz grave com firmeza e afinação

Você já deve ter escutado a voz grave do jornalista Cid Moreira, que ficou famoso como apresentador do Jornal Nacional há algumas décadas.

Ele também ficou muito conhecido pela narração da Bíblia, a ponto de não conseguirmos imaginar outro narrador com voz tão impactante.

De fato, a voz grave é uma marca de muitos locutores. Transmite imponência, autoridade, emoção e até um certo ar sedutor.

Segundo reportagem da BBC News, essa característica é capaz até mesmo de eleger candidatos. Muita gente tende a ver uma imagem de seriedade em políticos com vozes graves.

Até para conseguir um emprego, vale a pena apostar nisso. Com algum grau de impostação e algumas técnicas, dá para abaixar o seu tom vocal.

Intérpretes com voz grave

Alguns cantores também ficaram eternizados por essa característica. É o caso de Tim Maia, o maior representante da soul music brasileira. Sua voz grave inconfundível ficou registrada em sucessos inesquecíveis, como “Azul da Cor do Mar”, “Sossego”, “Me Dê Motivo”, “Ela Partiu” e tantos outros.

Barry White era outro intérprete que usava e abusava de seu belo grave. E tinha como marca registrada iniciar as músicas falando. Exemplos disso são os hits “All Around the World”, em que dialoga com Lisa Stansfield; “You’re the First, the Last, My Everything” e “Let the Music Play”.

Podemos destacar, ainda, o Rei do Rock, Elvis Presley. Mesmo sendo um barítono, alcançava notas mais graves com excelência, como em “Can’t Help Falling in Love”.

Já entre as mulheres, temos vários exemplos, como Cássia Eller, Zélia Duncan, Marília Mendonça, Alcione e Ana Carolina.

A cantora e compositora sertaneja Luiza Martins, por sua vez, tem uma história bastante interessante acerca desse tema. No programa “The Noite com Danilo Gentili”, ela contou que sua voz era médio-grave.

Entretanto, após se recuperar de uma cirurgia realizada por conta de um câncer de tireoide, sua voz se tornou grave, a ponto de ser confundida, ao cantar, com vozes masculinas.

Frequências vocais

desenho de um microfone e  frequência vocal

É importante salientar que a voz humana consegue atingir três faixas de frequência principais: graves, médios e agudos.

É por isso que conseguimos cantar. Seria impossível entoar melodias sem essa flexibilidade vocal.

Vale lembrar, ainda, que a frequência é medida em hertz, o qual indica o número de ciclos vibratórios por segundo. Quanto mais grave for a voz, menos hertz ela produzirá, já que haverá menos ciclos vibratórios das pregas vocais a cada segundo.

Mulheres atingem notas de baixa frequência, mas com mais dificuldade, por uma questão fisiológica. Suas pregas vocais, em geral, são menores, mais finas e com maior tensão (mais esticadas), com mais propensão às notas agudas, ou seja, de alta frequência.

Os homens, por sua vez, têm normalmente pregas mais longas, densas e com menor tensão, o que implica em maior facilidade para a produção das notas graves.

São as pregas vocais, portanto, que determinam a frequência fundamental da voz, ou seja, o próprio tom de fala do indivíduo. Ela varia de 80 a 150 Hz em homens, de 150 Hz a 250 Hz nas mulheres e acima de 250 Hz nas crianças.

No canto essas variações são naturalmente maiores, pois a música exige ao intérprete alcançar uma diversidade maior de notas, que vão dos graves aos agudos.

Pregas vocais e instrumentos musicais

imagem das cordas vocais

Em um instrumento musical como o violão, conseguimos perceber bem essa dinâmica, similar ao que ocorre nas pregas vocais.

A primeira, segunda e terceira cordas do violão – e sempre numeramos de baixo para cima – são mais finas, curtas e tensas. Portanto, ao tocá-las, temos notas agudas.

Já a quarta, quinta e sexta cordas são claramente mais grossas e longas, mas menos tensas. As notas são, desta forma, mais graves.

A voz grave no canto

Se a caixa de ressonância do instrumento for maior, os graves também se destacarão.

Um baixo acústico, por exemplo, tem sua caixa de ressonância maior que a de um violoncelo que, por sua vez, é maior que a viola e o violino.

O ser humano também é capaz de moldar o seu trato vocal, formado pela língua, lábios, mandíbula e palato mole. É nessa estrutura que se encontra sua própria caixa de ressonância, fundamental para o canto.

Da mesma forma que nos instrumentos musicais, o espaço maior no trato vocal favorece a voz grave.

Podemos movimentar os músculos e articulações do rosto para alterar o timbre, tornando-o mais “pesado”.

É possível, assim, alongar, encurtar, alargar ou estreitar os espaços, mudando a voz para a frequência desejada, seja ela grave, média ou aguda.

Dicas para aperfeiçoar a voz grave

foto em preto e branco de um cantor que parece ter a voz grave se apresentando

Muitos alunos de canto buscam desesperadamente por exercícios que permitam o alcance das notas agudas.

Entretanto, trabalhar a voz grave também é fundamental. Afinal, não cantamos numa única frequência o tempo todo.

O fato é que a música nos desafia em diversas situações. Se quisermos cantar com excelência, precisamos exercitar os músculos laríngeos para aumentar a tessitura e extensão vocais, superar nossos limites e, assim, encantar o público.

Então, a voz precisa estar firme, presente e afinada em qualquer frequência.

E um grave bem executado faz toda a diferença, concorda?! 

É claro que, nesse processo, é preciso respeitar sua estrutura vocal. Para isso, o primeiro passo é cantar músicas no tom adequado.

Se a canção estiver num tom baixo demais, muito fora de sua tessitura, o desempenho ficará prejudicado.

Ao tentar cantar com notas extremamente graves, os músculos tireoaritenoideos podem ficar tão relaxados, que a voz praticamente ficará inaudível.

Não é isso que queremos, certo?!

Mas é possível que a canção esteja em seu tom de voz, mas tenha algumas notas graves demais.

Neste caso, para que sua voz não suma nesses momentos, precisamos fazer alguns exercícios prévios, que certamente vão dar aquela mãozinha. Confira alguns deles:

  • Ajustes no trato vocal – Faça uma sequência de bocejos, emitindo sons graves. Abra a boca o máximo que puder. Esse artifício ajuda a alongar o trato vocal e a abaixar a laringe. Lembre-se que o aumento de espaço na caixa de ressonância favorece a voz grave, resultando num som mais encorpado.
  • Exercício de oitavas – Mantenha o ajuste de bocejo em seu trato vocal e cante a sílaba “Ma” em oitavas diferentes. Mulheres podem ir do D3 (Re 3) para o D2 (Re 2). Já os homens podem ir do G3 para o G2, ou do G2 para o G1, se conseguir. Evite o vocal fry. É preciso que a nota musical saia nítida.
  • Exercício com “J” – Você vai pronunciar apenas a consoante “J”, sem vogal. Faça, com essa consoante, a sequência de notas G (Sol), A (La), B (Si), C (Do), D (Re) numa região confortável para sua voz. Depois, siga essa mesma estrutura de intervalos entre as notas, mas meio tom abaixo. Continue a diminuir em meio tom essa sequência, até atingir a nota grave que você estava tendo dificuldade em alcançar.

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About Luciana Amaral

Luciana Amaral é cantora profissional, jornalista, revisora e redatora freelancer. Já participou de vários cursos de canto, como o Modern Mix Voice, do professor Caio Freire; Solte Seu Belting, do professor André Barroso; Canto Popular, durante o Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília (Civebra); e Congresso Online de Voz Cantada, realizado pela Faculdade Novo Horizonte e pela professora Flávia Caraíbas. https://www.instagram.com/luciana.amaral_cantora/

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