A profundidade da voz do baixo na música popular e erudita

A voz humana é incrivelmente flexível e capaz de entoar notas graves, médias e agudas. Entretanto, o alcance dessas notas varia, pois cada pessoa possui tessitura e extensão vocais distintas.

Entre os homens, a voz do baixo é uma das mais marcantes, resultando em performances musicais de grande impacto, com muito peso, profundidade e potência.

Você com certeza já escutou e apreciou algum intérprete com esse tipo de voz nas rádios ou no seu streaming favorito, mas talvez não tenha se atentado questões mais técnicas, como a classificação vocal e o alcance de determinadas notas.

E é por esta razão que decidimos falar sobre a voz do baixo como tema deste artigo. Você irá saber as principais características dessa voz, assim como conhecer artistas que ficaram eternizados pelo seu talento e sonoridade vocal tão peculiares. Vamos lá?

Tipos de vozes

fotografia em preto e branca estilo retrô 4 pessoas cantando com tipos de vozes diferentes

Neste blog já explanamos um pouco a respeito dos tipos de vozes existentes no canto. Entre as mulheres temos as sopranos, mezzo-sopranos e contraltos. Já as vozes masculinas são divididas em tenores, barítonos e baixos (o assunto de nosso presente artigo). Todas essas variantes têm subdivisões.

Também é válido destacar que estabelecer tipos de vozes é um procedimento mais útil no canto erudito, por uma questão prática. Em óperas, por exemplo, existem personagens com vozes mais agudas, médias ou graves. E os cantores/atores são escolhidos a partir dessas características.

Já no canto coral obrigatoriamente há uma subdivisão vocal, para que seja realizada uma combinação harmônica das vozes.

E para inserir os cantores em tipos de vozes diferentes, é preciso fazer uma classificação vocal. Não se trata de algo estático, pois a voz pode ser trabalhada e moldada. Assim, é possível até mesmo que ela mude para outro tipo, ao longo do tempo, dependendo de como estiver sua tessitura e extensão.

Com exercícios adequados, um cantor que não alcançava determinadas notas, pode muito bem passar a entoá-las com facilidade depois de muito treino.

Entretanto, essa flexibilidade não é infinita. Determinados aspectos fisiológicos contribuem para que algumas pessoas consigam entoar notas agudas sem tanto sofrimento. E esta premissa vale também para as notas muito graves. É aí que começamos a entender como funciona essa voz.

Extensão vocal dos baixos

Pessoas que alcançam notas de baixíssima frequência – ou seja, notas muito graves – podem se considerar “privilegiadas”. Afinal de contas, não é muita gente que consegue essa proeza.

É por esta razão que, no público masculino, a voz do baixo é considerada a mais rara. Cantores com esse tipo de voz possuem extensão vocal que vai geralmente do C1 (Dó 1) ao F3 (Fá 3), mas há variações. Alguns chegam a notas ainda mais graves ou apresentam extensão vocal mais ampla, atingindo notas acima do F3.

No caso, os números “1” e “3” dizem respeito à posição da nota no piano. O C1 representa a nota Dó mais grave de um piano de 88 teclas. O C2, portanto, fica uma oitava acima. O F3 corresponde, assim, ao terceiro Fá do instrumento, partindo da nota mais grave à mais aguda.

Timbre profundo, pesado e “sedutor”

siluenta de homem com timbre - voz do baixo

Uma das características mais comuns a todos os baixos é o timbre com sonoridade pesada e muito profunda.

Para entender como soam esses aspectos timbrísticos na voz do baixo, uma dica é escutar narrações do locutor Cid Moreira ou do ator Reynaldo Gonzaga.

Mas já que estamos falando sobre o baixo como um tipo de voz no canto, o ideal mesmo é lembrar de alguns intérpretes notadamente famosos pela sonoridade inconfundível, grande talento e capacidade de entoar notas bastante graves.

Vamos conferir alguns deles:

  • Zé Ramalho O cantor e compositor Zé Ramalho, responsável por sucessos como “Avôhai”, “Chão de Giz” e “Admirável Gado Novo”, é capaz de executar graves profundos, chegando a notas como A1 e B1. Outra curiosidade sobre o músico é sua grande extensão vocal, a qual ultrapassa três oitavas.
  • Arnaldo Antunes O ex-vocalista da banda Titãs não tem um timbre tão pesado, como se vê comumente nos baixos, mas atinge notas extremamente graves. Na canção “Ânima”, com o grupo Tribalistas, ele chega a um impressionante F#1.
  • Noriel Vilela Dono de uma voz bastante grave e potente, o saudoso Noriel Vilela é considerado historicamente um dos mais notáveis baixos da música popular brasileira. O peso de sua voz é sentido até no título de um dos seus maiores sucessos, “16 Toneladas”.

    Esta canção, inclusive, é marcante por ser toda interpretada nas regiões mais graves da voz masculina. Um desafio para qualquer cantor, inclusive para aqueles que têm extensão vocal condizente com notas de baixíssima frequência.
  • Barry White Cantor e compositor de voz profunda, Barry White foi um dos precursores da disco music. Também ficou muito conhecido por explorar bem os graves de sua voz para dar um toque sedutor a várias baladas românticas de sucesso, como “All Around the World” e “Just the Way You Are”.
  • Ivan Rebroff O cantor alemão Ivan Rebroff, falecido em 2008, ficou famoso no leste europeu pela sua interpretação de canções populares russas. Era um baixo superprofundo – subdivisão vocal do baixo, como veremos adiante – e impressionava o público com suas quatro oitavas de extensão vocal.
  • Tim Storms Este baixo norte-americano, cuja voz traz grande peso e profundidade, destaca-se não apenas pela sua sonoridade e talento, como também por quebrar recordes.

    E que recordes! Ele conseguiu alcançar um inacreditável G-7, equivalente à frequência de 0,189 Hz. Para você ter uma ideia, são oito oitavas abaixo do G1! Este feito está registrado no Guinness Book World of Records de 2020.

    Ele também detém, desde 2008, o recorde de maior extensão vocal humana, correspondente à impressionante marca de 10 oitavas.

Subdivisões da voz do baixo

conjunto de pessoas cantando em coro

Como dissemos anteriormente, os tipos de vozes tanto masculinas quanto femininas possuem subdivisões. Não é diferente com a nesse caso.

Apesar de todos os homens com esse tipo vocal terem como característica comum o fato de alcançarem notas muito graves, existem variações nesse alcance. Vamos então conhecer quais são esses subtipos:

  • Baixo cantante – Também chamado de baixo-barítono lírico, é a voz mais aguda e mais comum entre os subtipos da voz do baixo.
  • Hoher baixo – Outra denominação para esta variante é “baixo-barítono dramático”. É uma voz um pouco mais grave que o baixo cantante.
  • Baixo buffo – A palavra “buffo”, em italiano, quer dizer “engraçado”. Na realidade, nem seria exatamente um tipo vocal, mas um papel cômico em ópera reservado a cantores classificados vocalmente como baixos. Outros tipos vocais também têm sua versão buffo, como tenor buffo, soprano buffo etc.
  • Baixo profundo – Também chamado de baixo dramático, é uma voz com bastante peso e vibratos com menores oscilações. No canto popular, pode ser denominado como baixo 2.
  • Baixo superprofundo: voz muito escura, pesada e, é claro, extremamente grave. É a subdivisão da voz do baixo mais rara de se encontrar e cujos cantores atingem as notas mais graves.

    Sobre isso, há um dado curioso: na música coral, a depender do compositor, é possível ter um grupo à parte formado pelos “oitavistas”. Tais cantores entoam uma oitava abaixo do naipe dos baixos. Os oitavistas são mais comuns na música popular e litúrgica russa.

Carreira solo dos baixos

Para finalizar este artigo, propomos aqui uma reflexão. Você já reparou que não é muito comum ver artistas com tipo vocal baixo fazendo carreira solo?

O mais usual é que esses cantores estejam mostrando seu talento em conjuntos vocais, como os grupos à capella Pentatonix e Take 6.

E por quais razões isso acontece? Comente abaixo. Queremos saber sua opinião e análise sobre a presença dos baixos no mercado musical.

Ficamos por aqui e até a próxima, pessoal!

About Luciana Amaral

Luciana Amaral é cantora profissional, jornalista, revisora e redatora freelancer. Já participou de vários cursos de canto, como o Modern Mix Voice, do professor Caio Freire; Solte Seu Belting, do professor André Barroso; Canto Popular, durante o Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília (Civebra); e Congresso Online de Voz Cantada, realizado pela Faculdade Novo Horizonte e pela professora Flávia Caraíbas. https://www.instagram.com/luciana.amaral_cantora/

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