Compasso musical: a matemática da música

Uma das características mais fascinantes na música, é que ela não é um mero fruto de uma explosão criativa ou talento de compositores. Existe também um lado “matemático” envolvido.

É aí que entra o chamado “compasso musical”. Por trás de uma simples melodia, há toda uma lógica em torno de sua construção, inclusive de cunho numérico.

Parece um pouco confuso, certo?! Mas, calma! Vamos explicar direitinho o que é esse tal compasso musical e porque a matemática também faz parte dessa lúdica equação.

Fórmula de compasso

fones de ouvido em cima de uma partitura musical

Para compreender melhor o tema, vamos antes relembrar rapidamente como funciona uma partitura.

Temos o pentagrama, um sistema com cinco linhas onde devemos inserir as figuras musicais. Dependendo da posição onde essas figuras estão colocadas, saberemos quais notas devem ser tocadas – ou cantadas.

Na parte esquerda do pentagrama temos uma clave, que pode ser de Sol, Fa ou Do. Esse elemento também é fundamental como ponto de partida para a definição das notas na partitura.

Finalmente, ao lado da clave, temos um número, similar a uma fração matemática, com numerador e denominador. É a fórmula de compasso. Ela serve para definir como a música será organizada e dividida em partes iguais.

E como vamos interpretar esses números? É o que veremos agora.

Definição de compasso musical

Ao compor uma canção e inseri-la na partitura, podemos dividi-la em intervalos de tempo regulares. Esta divisão é chamada de “compasso musical”.

Bohumil Med, em sua clássica obra “Teoria da Música”, também denomina o compasso musical como o “agente métrico do ritmo”.

De fato, ele serve como uma “mão na roda” para qualquer músico. Afinal, define não só o ritmo, como a unidade de tempo e, ainda, o pulso (ou batida), referente às pulsações que se repetem regularmente ao longo da execução.

Veja, abaixo, um exemplo de um trecho de música e várias barras verticais ao longo do pentagrama. Denominadas de “barras de compasso”, elas servem para dividir a melodia em vários trechos com tempos iguais:

“barras de compasso”,

Levando-se em conta, ainda, o exemplo acima, perceba que a fórmula de compasso determina qual intervalo de tempo vai caber em cada um dos compassos.

Neste caso, é 3/4, significando que em cada um dos espaços dessa subdivisão musical há um intervalo de tempo equivalente a três semínimas.

E como chegamos a esta conclusão?

Na fração, o denominador é representativo de uma determinada figura musical. Esse número indica quantas unidades de tempo precisamos para obter uma semibreve.

No exemplo em questão, temos o número 4. Portanto, a unidade de tempo é a semínima, já que quatro semínimas somadas são o mesmo que uma semibreve:

a unidade de tempo é a semínima, já que quatro semínimas somadas são o mesmo que uma semibreve:

Já o numerador indica quantas vezes essa figura, ou o equivalente em tempo a ela, aparecerá em cada compasso musical.

Podemos, então, colocar três semínimas; ou seis colcheias (figura musical que representa metade do tempo da semínima); ou uma mínima pontuada; e assim por diante. O tempo é o mesmo.

Nesse sentido, é importante recordar o valor das figuras musicais, para que fique mais claro o entendimento desses intervalos na partitura.

Observação: as frações da tabela abaixo não são referentes às fórmulas de compasso, mas um comparativo do tempo de cada figura, partindo da figura de tempo maior, que é a semibreve.

tabela comparativa do tempo de cada figura, partindo da figura de tempo maior, que é a semibreve.

Classificação do compasso musical

Até o momento, falamos sobre o significado do compasso musical, para que serve e como ocorre a organização da música na partitura.

Tomamos como exemplo o compasso simples 3/4, para entendimento inicial do tema. Mas temos, além dos simples, os compassos compostos. Vamos entender o conceito e a diferença entre eles.

Compasso musical simples

Como dissemos, no compasso simples temos o número de tempos no numerador da fórmula ou fração de compasso. Já no denominador, temos a unidade de tempo, representada por alguma figura musical.

A subdivisão da figura é binária, ou seja, podemos dividir cada unidade de tempo em duas notas.

Há vários tipos de compassos musicais simples, como o já citado 3/4, o 2/4, o 4/4, o 2/2, o 4/2, o 2/8 etc.

Seguem sempre a mesma lógica. Então, em um compasso de 2/4 podemos ter a seguinte configuração:

compasso de 2/4

Já no 2/8 podemos compor uma partitura como a exemplificada abaixo:

2/8 podemos compor uma partitura

Em resumo, confira a seguir algumas das fórmulas de compasso e o que cabe em cada compasso musical a partir desses números:

2/8 – Equivalente ao tempo de 2 colcheias em um compasso.

4/4 – Equivalente ao tempo de 4 semínimas em um compasso.

8/32 – Equivalente ao tempo de 8 semifusas em um compasso.

2/2 – Equivalente ao tempo de 2 mínimas em um compasso.

Compasso musical composto

Já no compasso composto há uma peculiaridade: ele é derivado do compasso simples. Basta multiplicar pela fração 3/2.

Portanto, se o compasso simples é 2/4, por exemplo, ao multiplicá-lo por 3/2, temos o seu derivado composto: 6/8.

Está vendo como música e matemática têm tudo a ver?

Vamos, então, compreender como esse compasso composto funciona na partitura.

A unidade de tempo, neste caso, vai ser uma figura musical pontuada, ou seja, a figura somada à metade de seu tempo:

figura musical pontuada, ou seja, a figura somada à metade de seu tempo

Se no compasso simples de 2/4 tínhamos um intervalo de tempo equivalente ao de duas semínimas, no correspondente composto de 6/8 teremos o equivalente a duas semínimas pontuadas ou seis colcheias.

A unidade de tempo, portanto, é a semínima pontuada ou o agrupamento de três colcheias. A subdivisão de tempo, como podemos verificar, é ternária, em que uma figura musical é dividida em três.

Veja, a seguir, um exemplo de linha melódica com fórmula de compasso 6/8, bastante comum nas valsas:

fórmula de compasso 6/8, bastante comum nas valsas:

Classificação do compasso musical segundo a métrica

Também podemos nomear o compasso musical de acordo com sua métrica, classificando-o como binário, ternário, quaternário ou complexo (também conhecido como composto irregular).

Leva-se em conta, nessas situações, os pulsos, determinando-se os tempos fortes e fracos:

  • No compasso binário, por exemplo, com dois tempos por compasso musical, o pulso forte é seguido de outro fraco.
  • O ternário traz três tempos, sendo o primeiro forte e os outros dois fracos.
  • O quaternário, naturalmente, tem quatro tempos. Neste caso, a intensidade das pulsações é mais variável. O primeiro tempo é forte, o segundo é fraco, o terceiro é mediano, enquanto o quarto é fraco.

Em qualquer desses compassos classificados segundo a métrica, podemos ter exemplos de compassos simples e compostos.

Já o compasso complexo ou irregular apresenta uma soma de dois ou mais compassos. O 5/4, por exemplo, pode ser resultado do agrupamento dos compassos 3/4 e 2/4:

pauta musical - agrupamento dos compassos 3/4 e 2/4

Podemos colocar os cinco tempos num único compasso? A resposta é “sim”. Entretanto, as pulsações ficam irregulares e pode haver confusão, na hora de encontrar o ritmo da música.

Pensar em dois compassos simples diferentes, portanto, é mais didático para o músico e permite que ele não se perca na execução.

A canção de jazz “Take Five”, do grupo The Dave Brubeck Quartet, é um exemplo de música com compasso 5/4.

Da mesma forma, a icônica música-tema do filme “Missão Impossível” também traz essa fórmula de compasso.

E vamos para o nosso último “compasso” deste artigo…

Abordamos, ao longo deste texto, o “compasso musical” de forma que iniciantes na teoria comecem a compreender o assunto.

Mas o tema ainda traz outras nuances e aspectos mais complexos, como outras classificações e as diferenças entre as teorias francesa e alemã, por exemplo. Entretanto, não é o nosso objetivo chegar tão a fundo, pois criaria confusão, em vez de esclarecimento.

O importante é que você já tenha algumas noções e sinta-se motivado a buscar maior aprofundamento em cursos especializados.

Para você, que já estuda canto ou algum instrumento, é de fundamental importância entender o compasso musical, na hora de lidar com partituras.

Continue conosco, pois estaremos sempre dando novas dicas e material teórico para você ter mais conhecimento sobre esse fascinante universo da música.

Até a próxima!

About Luciana Amaral

Luciana Amaral é cantora profissional, jornalista, revisora e redatora freelancer. Já participou de vários cursos de canto, como o Modern Mix Voice, do professor Caio Freire; Solte Seu Belting, do professor André Barroso; Canto Popular, durante o Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília (Civebra); e Congresso Online de Voz Cantada, realizado pela Faculdade Novo Horizonte e pela professora Flávia Caraíbas. https://www.instagram.com/luciana.amaral_cantora/

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