Arranjo musical: a arte de repaginar antigas canções

A palavra “arranjo” está presente, com significados diversos, em vários contextos. Você pode fazer um “arranjo” do mobiliário e dos quadros na sua casa, montar um “arranjo” de flores e até fazer “arranjo” na matemática, no estudo de análise combinatória.

Na música, por sua vez, temos o chamado “arranjo musical”, que permite inserir uma nova roupagem a composições já existentes. E é sobre esse assunto que iremos falar ao longo deste artigo. Fique conosco!

Uma introdução ao arranjo musical

Você certamente deve conhecer a canção “É o Amor”, que revelou a dupla Zezé di Camargo e Luciano na década de 1990. Já no ano de 2005 foi lançado o filme “Os Dois Filhos de Francisco”, o qual conta a trajetória dessa famosa dupla sertaneja.

Repare que na trilha sonora há essa mesma canção, “É o Amor”, com outros instrumentos, um ritmo diferente e a magnífica interpretação de Maria Bethânia. Houve mudança até de estilo: o sertanejo virou MPB. E como isso foi possível? Tivemos, neste caso, um arranjo musical.

Recentemente, o músico Felipe Bide – conhecido como Bidesão – e o grupo Nossa Toca também resolveram transformar essa icônica canção de Zezé di Camargo e Luciano. Eles incorporaram o gênero soul ao clássico sertanejo, com muito swing e uso de ornamentos vocais, como melismas e drives. O resultado ficou incrível. Confira:

Definição de arranjo musical segundo os dicionários de música

Tendo em vista os exemplos anteriores, podemos agora entender melhor o que é arranjo musical. De acordo com quatro publicações especializadas em música, esse termo pode ser definido da seguinte forma:

  • Dicionário da Música, de Vidal Galter: “Modificação de uma peça musical, ou parte dela, em função de objetivos e interesses do arranjador”.
  • Dicionário Grove de Música (edição brasileira): “Reelaboração ou adaptação de uma composição, normalmente para uma combinação sonora diferente do original”.
  • Dicionário de Música da Zahar: “Adaptação de composição para um instrumento ou grupo de instrumentos diferente do pretendido pelo compositor”.
  • Larousse de la Musique: “Transcrição de uma obra musical para um ou vários instrumentos diferentes daqueles para os quais ela tem sido inicialmente escrita”.

O arranjador: o profissional dos arranjos musicais

Profissional com um violáo fazendo anotação de um arranjo musical

Agora que você entendeu o significado de arranjo musical, fica a pergunta: é algo simples ou complexo de se fazer? Depende da situação, dos instrumentos envolvidos e do que se espera na criação do arranjo.

Em geral, pode ser algo muito complexo, exigindo domínio dos fundamentos da música, como ritmo e harmonia, além do conhecimento das possibilidades de determinados instrumentos, para que o resultado seja satisfatório.

Há, inclusive, um profissional específico para esse tipo de atividade: o arranjador. Este músico muitas vezes assume também as funções de produtor musical, o qual é responsável por coordenar os músicos nas gravações em estúdio, além de acompanhar as fases de mixagem e masterização.

Em um processo de arranjo musical é possível alterar o estilo, como já falamos a respeito, como também os instrumentos utilizados, o andamento da música, entre outros elementos. O importante é que a composição se mantenha reconhecível como era na versão original.

Níveis de complexidade do arranjo musical

Como dissemos, há arranjos musicais desde os mais simples aos mais complexos. Você pode, por exemplo, arranjar uma música somente com voz e violão.

Músicos que tocam em bares fazem isso o tempo todo. Basta que a pessoa consiga adaptar a canção feita originalmente com banda e execute apenas com um instrumento.

Até instrumentistas amadores conseguem realizar esse tipo de adaptação, de certa forma, mas provavelmente irá optar por harmonias menos sofisticadas. Já um violonista com grandes habilidades musicais irá criar um arranjo mais interessante e com maior nível de complexidade.

E por falar em arranjos musicais para um único instrumento, vale a pena conferir o trabalho do violoncelista novaiorquino Clancy Newman. Seu projeto “Pop-Unpopped” traz arranjos de sucessos da música pop para violoncelo.

Em seu canal no YouTube, que traz o mesmo nome do projeto, Newman apresenta versões de hits como “Thinking Out Loud”, de Ed Sheeran; “Shallow”, de Lady Gaga; “Billie Jean”, de Michael Jackson; e “Uptown Funk”, de Mark Ronson, entre outros.

Se criar um arranjo musical para um único instrumento pode ser particularmente trabalhoso e difícil, imagine então elaborar um arranjo para orquestra.

Existem vários exemplos desse tipo de arranjo, mas vamos citar um que é particularmente interessante. Trata-se da adaptação da peça “Quadros de uma Exposição”, feita para piano por Modest Mussorgsky em 1874. Maurice Ravel orquestrou a obra em 1922, tornando-a muito mais popular.

Em 1971, a composição ganhou uma versão rock pelo grupo Emerson, Lake em Palmer. O arranjo contou com baixo, bateria, vocais e ainda foram adicionados novos temas. Em 2002 houve relançamento do disco com inclusão de uma outra releitura da música.

Da mesma forma, pode-se lançar mão de obras orquestrais e rearranjá-las para grupos de câmara.

Muitos compositores de música erudita, inclusive, foram arranjadores. É o caso de Johann Sebastian Bach, que fez arranjos de algumas de suas próprias criações, adaptando-as para outros instrumentos.

O brasileiro Heitor Villa-Lobos é outro exemplo, ao dar uma roupagem erudita para canções infantis. Suas 12 Cirandinhas são simplesmente músicas folclóricas arranjadas para piano, mas com muito mais complexidade que as peças originais.

O arranjo musical no jazz

fotografia saxofone ao lado de um teclado

Por ser um estilo marcado pelas improvisações e performances criativas dos instrumentistas, o jazz traz algumas peculiaridades, no que diz respeito ao arranjo musical.

Segundo o “The New Grove Dictionary of Jazz”, todas as apresentações realizadas nesse gênero, por terem caráter de improvisação e releitura, podem ser consideradas exemplos de arranjos.

De acordo com a publicação, “os músicos rearranjam o material básico em incontáveis formas e variações”.

No artigo “Considerações Sobre o Conceito de Arranjo na Música Popular”, publicado em 2001 na revista “Cadernos do Colóquio”, da UNIRIO, o autor Paulo Aragão diz que, desta maneira, haveria “execuções únicas”, sem possibilidade de serem replicadas do mesmo jeito. “Um caso como esse seria denominado pelo ‘Grove of Jazz’ de um one-time arrangement, que seria uma vez mais rearranjado em uma outra execução”, destaca o autor.

Outros exemplos de arranjo musical

E para finalizar, conheça agora outros exemplos muito interessantes de arranjos musicais na música popular:

  • Hotel California: o clássico da banda Eagles, de tão bom, parece “imexível”, não é verdade? Pois o grupo Gipsy Kings ousou reformular o icônico hit do rock e inseriu um estilo flamenco contagiante.
  • Cruisin’: esta música foi lançada em 1979 na voz de Smokey Robinson. Em 2000, recebeu arranjo para duas vozes na trilha sonora do filme “Duets”, com Huey Lewis e Gwyneth Paltrow nos vocais. Em 2014, o próprio Smokey Robinson fez um novo arranjo musical do hit, fazendo parceria com Jessie J.
  • Emotion: este sucesso do grupo Bee Gees, de 1977, ganhou nova roupagem em 2001 com o trio Destiny’s Child, o qual tinha Beyoncé entre as integrantes.
  • Dança da Solidão: o famoso samba de Paulinho da Viola, de 1972, recebeu uma versão à altura em 1994, na voz de Marisa Monte. O arranjo musical preservou o estilo, o samba, mas trouxe nova base instrumental. Além do arranjo de violão de Gilberto Gil, a canção teve também como instrumentos o pandeiro, a guitarra, o baixo elétrico, a bateria e o clarone.

E você? Costuma apreciar os arranjos de antigos clássicos ou prefere as composições originais? Comente abaixo e aguarde nossos próximos artigos. Até lá!

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