A humanidade sempre se expressou artisticamente por meio da música. Mas, para manter intactas as composições tais como os autores idealizaram, era preciso registrá-las de alguma forma. Daí surgiu a chamada “notação musical”.
Trata-se simplesmente de um sistema de símbolos gráficos, os quais trazem informações parciais ou completas sobre a música a ser executada.
O tipo de notação musical mais utilizado é a “partitura”. Porém, existem vários outros tipos de representações gráficas musicais. E mesmo a partitura como conhecemos hoje foi antecedida por outros sistemas, os quais se desenvolveram ao longo dos séculos.
Neste artigo, iremos falar um pouquinho a respeito da história da notação musical, alguns de seus elementos básicos e dicas para aprimorar a leitura e a escrita musical. Fique com a gente!
Notação musical: definição
Podemos definir a notação musical como um sistema de escrita que representa os elementos da música, como melodia, ritmo, harmonia e dinâmica. São utilizados, nesse processo, símbolos e convenções para transmitir as informações musicais de forma clara e legível.
Com esses registros, é possível preservar as composições e impedir que elas se percam no tempo. Assim, obras-primas de compositores renomados, como Beethoven, Mozart e Bach, continuam sendo tocadas e conhecidas em todo o mundo.
Outro aspecto importante sobre a notação musical é o seu papel no processo de aprendizagem e prática da música, seja ela erudita ou popular, permitindo o acesso a um vasto repertório de canções de diferentes estilos.
Uma breve história da notação musical
Mas quando, afinal de contas, surgiu a notação musical? Existem alguns registros históricos milenares, como o Coro Stasimon de Orestes, escrito por volta de 200 a.C e que traz letra e alguns símbolos referentes à voz e aos instrumentos.
Já na Idade Média vale destacar os neumas, bastante presentes no canto gregoriano e cujos símbolos não traziam a altura e duração das notas, mas já davam aos cantores noções sobre o direcionamento melódico da composição. O sistema neumático, inclusive, foi a base para o desenvolvimento da notação musical no Ocidente.
A mostra “Notas Musicais para o Mundo”, promovida pelo Museu Gutenberg de Mainz, na Alemanha, em 2021, trouxe informações mais detalhadas sobre os neumas medievais.
Entre elas, a evolução para as notações quadrada e losangular, desenvolvidas na Alta Idade Média para expressar mais precisamente a altura relativa das notas.
A exposição também mostrou a relevância de novas invenções que beneficiaram a música de uma forma geral. O advento da prensa móvel de Johannes Gutenberg em 1450 foi um exemplo, ao possibilitar a impressão das partituras, até então anotadas manualmente.
No século XVI, Ottaviano Petrucci publicou obras polifônicas utilizando tipos móveis, mas somente no século XVIII, com o advento da litografia, foi possível fazer tiragens bem maiores e com melhor qualidade.
A Schott, uma renomada editora de música alemã criada em 1770, em Mainz, pelo clarinetista Bernhard Schott, aproveitou essa evolução e utilizou a litografia para lançar obras impressas de grandes nomes, como Mozart e Beethoven.
Naturalmente, todo esse conteúdo se tornou um acervo de inestimável valor cultural e histórico, auxiliando na preservação de composições fundamentais na história da música.
Nos séculos XX e XXI, o desenvolvimento tecnológico se deu de tal forma, que permitiu o aparecimento de softwares de notação musical, revolucionando a forma como as partituras são criadas e compartilhadas.
Surgiram, então, programas como o Finale e o Sibelius, proporcionando uma maneira mais acessível e eficiente de compor e reproduzir música.
Elementos básicos da notação musical
Após essa rápida viagem no tempo, chegou a hora de fazer um rápido “esboço” dos elementos básicos da notação musical. Vamos lá?
A clássica partitura, tal qual conhecemos no Ocidente, traz como base uma pauta de cinco linhas horizontais e paralelas, chamada de pentagrama, a qual serve como alicerce para colocar as informações da música ou composição.
Nesta pauta inserimos a clave, um símbolo que indica a nota de referência a partir da qual as outras notas são definidas. Também há a fórmula de compasso, que divide a composição em tempos iguais.
Figuras musicais, como mínima, semínima e colcheia, por sua vez, servem para informar os tempos de cada nota. Elas também podem indicar a altura, dependendo da clave e da posição no pentagrama. Há ainda figuras relacionadas às pausas ou momentos de silêncio na música.
Esses são os dados mais importantes e, por eles, conseguimos ter noções de aspectos rítmicos e melódicos. Mas há outros elementos que também podem ser inseridos na partitura, como o andamento, os ornamentos e a dinâmica, os quais auxiliam o músico na interpretação da peça.
Outros tipos de notação musical
As partituras são, indubitavelmente, a maneira mais completa de se registrar graficamente qualquer composição. Mas há outros tipos menos complexos de notação musical. É o caso da tablatura e das cifras.
Essas duas notações citadas são de fácil aprendizado, mesmo para quem não conhece teoria musical, e bastante utilizadas na música popular. Porém, trazem limitações.
Para que elas sejam úteis, o instrumentista precisa conhecer de antemão a música que pretende tocar, algo que é dispensável na partitura, pois esta apresenta todos os dados necessários para a execução da peça.
A tablatura, por exemplo, é mais utilizada em instrumentos de corda com trastes, como o violão, a guitarra e o baixo elétrico. Esse sistema permite ao instrumentista saber exatamente quais cordas apertar, mas não mostra a melodia, o andamento ou o ritmo.
Já as cifras indicam os acordes da música, os quais são inseridos sobre a letra da canção nas posições em que devem ser tocados. Tais acordes são representados por letras, que podem ser seguidas ou não de sustenidos, bemóis, símbolos e números. Veja alguns exemplos abaixo:
A – La maior
Bm – Si menor
C# – Dó sustenido
Dm7 – Re menor com sétima
Eb – Mi bemol
Fo – Fa diminuto
G7 – Sol maior com sétima
Para entender como uma música pode ser cifrada, confira a seguir o trecho de “Como Eu Quero”, do grupo Kid Abelha, com indicação dos acordes:
C
Diz pra eu ficar muda
G
Faz cara de mistério
Am
Tira essa bermuda
F
Que eu quero você sério
C
Tramas do sucesso
G
Mundo particular
Am
Solos de guitarra
F
Não vão me conquistar
Am Em
Uh, eu quero você
F7M
Como eu quero
Am Em
Uh, eu quero você
F7M
Como eu quero
Viu como é simples? As cifras são muito úteis para momentos informais, como as rodinhas de violão entre amigos, ou mesmo para instrumentistas que não sabem improvisar e muito menos conhecem de cor todas as harmonias das músicas que pretendem tocar em algum show.
Portanto, essa notação musical, apesar de muito menos complexa e com informações limitadas, tem sim o seu valor.
Dicas para desvendar os segredos da notação musical
Conhecer os tipos de notação musical e saber utilizá-los na prática, principalmente as partituras, é fundamental para qualquer músico. Por esta razão, deixamos aqui algumas dicas para você se aprofundar no tema. Confira:
- Domine os fundamentos da notação musical – Procure se familiarizar com os símbolos musicais, como as notas, as pausas, as claves, a dinâmica, entre outros elementos. Estude as convenções de notação para diferentes instrumentos e gêneros musicais.
- Pratique a leitura musical regularmente – Assim como qualquer outra habilidade, o aprendizado da leitura musical requer prática regular.
Reserve um tempo diário para ler partituras, começando por músicas mais simples e progredindo para peças mais desafiadoras. Leia em diferentes tons, ritmos e estilos musicais, a fim de expandir sua compreensão da notação musical. Com o tempo, você desenvolverá uma leitura mais fluente e intuitiva.
- Escreva suas próprias partituras – A escrita musical é uma forma eficaz de aprimorar a compreensão da notação. Experimente compor suas próprias músicas e transcrevê-las em partituras.
Os softwares de notação musical podem ajudá-lo(a) nesse processo, o que não impede também o uso do bom e velho lápis e papel. Ao escrever suas próprias composições, você aplica os conhecimentos adquiridos na leitura musical, além de desenvolver sua criatividade.
- Pratique com outros músicos – A prática em conjunto com outros músicos auxilia bastante no aprimoramento da leitura musical, além de ser uma oportunidade de trocar conhecimentos e experiências.
- Treine a percepção auditiva – Desenvolva sua capacidade de identificar e reproduzir intervalos, acordes e melodias. Faça exercícios de ditado melódico e harmônico, e ouça atentamente as nuances musicais em gravações e apresentações ao vivo. Essa conexão entre a notação musical e o ouvido treinado tornará sua leitura mais precisa.
Agora é com você! Dedique-se aos estudos e aproveite ao máximo as possibilidades proporcionadas pelo conhecimento da notação musical.
Não encare esse aprendizado como um mero conteúdo teórico. Pense nessa ferramenta como sua maior aliada na criação e execução artística. Até a próxima!