Belting: o que é, o que não é e como utilizar no canto

Ao cair nas graças da indústria, o belting tornou-se uma das técnicas mais requisitadas e buscadas. Tanto a indústria quanto os caça-talentos mais e mais procuram por seus executadores.

Esse fenômeno naturalizou o belting de maneira impressionante.

Hoje, dos programas de talentos às igrejas evangélicas, o belting tornou-se o modelo de como “cantar bem”.

Entendamos, por isso, o que é belting, o que não é e, especialmente, como utilizá-lo em nosso canto. Vamos juntos?

A progressão do belting na História

Antes de mais nada, é preciso voltarmos no tempo. Com isso, podemos esclarecer algumas confusões com respeito ao belting.

Embora o nome esteja em inglês, não falamos de algo inventado pelos EUA. O termo recente — traduzido livremente como golpe forte — remete a algo bem antigo.

Quando avaliamos o canto tribal, mesmo primitivo, vemos o que segue:

Reparou como o solista canta com ampla projeção e clareza? O mesmo cenário se repete em outros cantos tribais. A música antiga africana é a que melhor nos mostra a tendência.

Embora seja uma releitura da tradição, veja como funciona em Circle of Life. Você vai ser lembrar dela: foi tema de O Rei Leão.

Vemos os agudos pronunciados com voz aberta e retumbante. Eis o que chamamos de belting

Mais tarde, o cristianismo negro fundiu sua tradição de canto com os louvores. Nasce, então, o gospel. E o impacto é tamanho que, junto à temática, obriga-nos a nos arrepiarmos:

Com o advento da Broadway, compreender cada palavra tornou-se imprescindível. E a voz de cabeça “rouba” um tanto dessa clareza. Foi aí que o belting sentou-se no trono para, aparentemente, não mais sair.

Antes do belting: Conceitos fundamentais.

Para não acabarmos falando grego, vejamos alguns conceitos básicos de canto. Eles nos ajudarão a entender corretamente o belting. Fazendo-o, seremos capazes de descobrir nosso timbre mais facilmente.

O que é voz de peito e voz de cabeça?

No primeiro contato, estes termos podem gerar confusão. Obviamente toda voz sai da boca. E como funciona? É simples:

Chamamos “voz de peito” aquela com a qual falamos. O ponto de maior concentração das vibrações fica abaixo do pescoço. Concentra-se em nosso tórax.

Quer fazer um teste? Imagine que seu amigo está do outro lado da rua. Agora, sem gritar ou forçar, tente chamar sua atenção. “Amigo! Ei! João!”. Faça-o, novamente, agora com a mão sobre o externo.

Viu como há muita vibração ali? E reparou como a boca está bem aberta, e a voz é projetada com grande intensidade e sem muita saída de ar?

Com a boca bem aberta, amplificamos nossa voz. Exalando menos ar do que num grito, poupamos a longevidade de nosso canto e, claro, mantemos nossa saúde vocal.

A voz de cabeça, por outro lado, funciona um pouco diferente. Ela é utilizada, principalmente, para os agudos extremos.

Quando o cantor experiente encontra uma frase muito aguda, a aplica. Na voz de cabeça, a emissão de ar é bem pequena, a língua e o maxilar se enrijecem. O resultado é uma voz menos clara, menos projetada e, consequentemente, mais suave.

O nome deriva do fato de colocarmos o ponto de tensão acima do pescoço. Isso dá a impressão de que a voz se projeta desde o topo da cabeça.

Um exemplo magnífico de aplicação das diversas vozes

É óbvio: voz de peito e de cabeça não encerram o tema. Mas são as mais importantes, aqui.

Por isso, vejamos essas duas técnicas aplicadas num exemplo bem popular: Bohemian Rhapsody, do Queen.

Focando em Mercury, podemos perceber o que segue:

  • Ao início, sua voz produz os agudos de maneira muito suave, utilizando voz de cabeça;
  • O coral, por sua vez, mescla vozes de cabeça com alguns falsetes;
  • Com o ingresso da bateria, Freddie abandona a voz de cabeça. Seus agudos ganham mais corpo.

Ocorre que, embora Freddie deixe de usar voz de cabeça, ele passa não para a de peito. Agudos, em geral, não funcionam em voz de peito.

Tentar cantar agudos com voz de peito é arriscado tanto para as cordas vocais quanto para a beleza. O resultado, muito provavelmente, será desafinação ou grito. E, aqui, surge a ideia de belting.

O conceito de belting

Agora, já conhecemos duas das vozes em questão. Sabemos, também, que belting nem é grito nem voz de peito. Mas o que é, afinal? Vejamos o conceito básico de belting.

Belting, para todos os efeitos, é a produção intermediária de vozes para buscar agudos expansivos e projetados. Grego? Não. Deixa que explique:

Por voz intermediária, entenda-se que há alta tensão no peito, porém não toda. A junção de abertura bocal, respiração correta e vibrato quase rouba a voz do peito. Mas não o faz.

Com isso, temos uma voz muito projetada, no belting. No entanto ela apenas se assemelha à nossa voz de peito. Ela está, sim, num ponto de passagem. E conjuga vozes de transição.

É importante lembrar: o belting não é drive. A voz segue limpa.

Quer exemplos? Acho justo. Você, além de teoria, verá o belting na prática. Ficará muito mais fácil praticar e descobrir seu belting sabendo exatamente o que é. Vamos lá?

Exemplos de Belting no POP

Belting em Let it go, tema de Frozen, da Disney

A Disney segue muito os padrões de musical da Broadway. Porém, de todas as canções, Let it go recebe um destaque. Especialmente quando o assunto é belting.

Aqui, quero que preste atenção principal no refrão e no crescendo. Confira:

Viu como, após a terceira repetição do refrão, a cantora marcou um apogeu? A palavra “Tempestade” é a deixa, observem bem. Logo antes de um pianíssimo.

Não houve grito. Não houve drive. Houve, indiscutivelmente, um belting.

Belting em Chandelier, de Sia

Sia não precisa de apresentações. Seu leque é incrível. Suas músicas são sensuais e belíssimas. Os clipes, então, nem se fale. São produções de pura arte cinematográfica.

Outra vez, repare como o refrão é o ponto central. Falaremos disto mais tarde. Quero que foque no casamento de belting com falsete.

Tratando especificamente de belting, atenção aqui:

Quando Sia canta: “I’m gonna fly like a bird through the night”, ela aplicou belting. Um agudo extremo cantado utilizando o belting para dar poder e projeção. Arrepia.

Veja, também, uma cantora amadora cantando Chandelier. Repare em sua postura. Do mesmo modo, atente-se à sua boca, maxilar bem aberto, formando uma caixa de ressonância:

Belting em Labios compartidos, do Maná

Para mostrar como não é coisa dos EUA, confira Maná aplicando o belting:

Sem segredos. “De tus pechos a tu par de pies” já é belting. No ponto alto, mais adiante, quando cantam “En tu piel de mel”, temos belting outra vez.

Belting em Reconvexo, de Caetano Veloso para Maria Bethânia

Caetano escreveu Reconvexo para sua irmã, Bethânia. E Bethânia, a rainha brasileira do belting mais marcante, não deixou por menos.

E me perdoe quem acredita ser Ana Carolina a verdadeira rainha. Mas Bethânia é incomparável!

Em Reconvexo, a principal aplicação de belting dá-se no último verso da música: “Que não é recôncavo nem pode ser reconvexo”. Novamente, temos uma lindíssima aplicação de belting:

I have nothing, de Whitney Houston: um clássico do belting

Nem preciso dizer nada. Apenas ouça Houston e seu belting perfeito:

Deu para ver todos os casos? Ajudou a matar a dúvida? Que ótimo! A união de teoria com o ver na prática ajuda bastante.

Agora, chegou a hora de descobrirmos como conseguir um belting perfeito. Com certeza, a aplicação adequada da técnica irá tornar seu canto muito superior.

O Belting em nossas vidas

Como foi possível perceber, o belting não é um jeito de cantar a música. Nunca. O belting entra na canção para dar brilho e destaque a uma parte específica.

O segredo do bom belting é não exagerar. A canção precisa ter variações e momentos. Como tudo na vida, belting demais enjoa. Torna-se cansativo.

Todos os exemplos apontados misturam diversas técnicas. Do drive ao vibrato. Do belting ao falsete. O segredo do bom cantor é conhecer todas as técnicas e, com justo juízo, saber qual aplicar. E, especialmente, qual aplicar em cada momento importante.

Sabendo disso tudo, vejamos como conseguir aplicar o belting em nosso canto. O primeiro ponto é o mais importante.

Belting é resultado de estudo e esforço

De nada adianta querer aplicar o belting sem colocar esforços nisso. O primeiro é o estudo. Você precisará, necessariamente, estudar o canto com afinco.

Para isso, é muito simples: basta procurar um curso de canto ou um professor particular. Se está com pouco dinheiro, não se preocupe. Há cursos online de canto gratuitos disponíveis na internet.

Estudar, estudar e estudar. E, quando tiver estudado muito, treinar, treinar e treinar. Esta é a receita para o sucesso em qualquer área do conhecimento.

Adiante, falaremos sobre alguns bons exercícios para tornar o belting natural e bonito.

Abandonar maus hábitos em nome do belting perfeito

O cigarro e a bebida são grandes inimigos do belting. Do mesmo modo, forçar-se e o gritar acabam com nosso trato vocal.

O bom cantor sabe que é preciso moderação e técnica. Que é urgente cuidar do corpo e da voz. Aquecimento vocal e exercícios são imprescindíveis!

Busque trabalhar sua extensão vocal e respiração

 Há quem possua ampla extensão vocal inata. Porém isso não pode ser obstáculo. Estude e pratique para ampliar o campo funcional de sua voz. Os resultados serão excelentes para o belting.

Grave suas execuções de canto

Belting - grave seu canto

 Nessa hora, não vale ter vergonha. É importante captar o que outras pessoas estão ouvindo. E a câmera com microfone nos ajuda muito.

Basta angular de uma maneira boa o celular. Sem ângulo adequado, a voz será distorcida. E não queremos isso.

Após gravar seu canto, escute com atenção e perceba as deficiências. Preste muita atenção no que é incômodo e feio. Sabendo o que fazer, trabalhe estes pontos.

Caso tenha dificuldades, busque um professor ou cantor experiente. Atente-se aos seus conselhos e não se poupe. É seu trabalho. Trate-o com carinho.

Nunca… Jamais desista!

O seu belting será o resultado de sua força de vontade. Quanto mais se esforçar, melhores serão os resultados.

Contudo, encontrando dificuldades, não desanime. Não faça isso consigo. A paciência e o esforço retribuem de maneiras incalculáveis.

Siga firme. Você é um cantor! Uma cantora! Não se renda jamais!

O Belting em exercícios

Mais do que saber o que é o belting, é importante descobrir como alcança-lo. Vamos, a partir daqui, fazer isso. Combinado?

Há uma série de exercícios disponíveis na internet. É preciso sempre ter cuidado. Alguns, se executados de forma incorreta, ferirão seu trato vocal. Outros são pura bobagem. Tenha bom senso.

Para te ajudar, selecionei alguns bastante funcionais. Confira!

Falar com alguém que está longe

Quando estamos num ambiente barulhento, ou quando o interlocutor está longe, costumamos fazer nossa voz mais forte. Entretanto não gritamos. O grito é ruim e incomoda.

Repita, então, esse processo de “chamar alguém” até encontrar um timbre limpo e agudo. E, se sentir rouquidão ou esforço na garganta, pare imediatamente. O belting não fere.

Cantar o “Parabéns pra você” com belting

cantar no microfone 1 2

Essa canção tão comum é uma ferramenta magnífica para trabalhar o belting. Quando chegamos ao ponto do “Muitas felicidades”, há uma variação de graves e agudos extrema.

Comece cantando num tom bem confortável. O mais grave que puder. Desde ali, encontre o ponto de transição. Chegará um momento no qual será necessário cantar o crescendo com voz de cabeça.

Trabalhe, então, em cantá-lo com belting. Entretanto sempre buscando poupar o trato vocal e soar agradável.

Encontre músicas com belting e as ensaie

Dei alguns poucos exemplos. Todavia há uma infinidade de músicas com belting, hoje em dia. Encontre uma que goste e ensaie. Ensaie, ensaie e ensaie. Calcule os momentos e as técnicas que foram aplicadas nela.

Quando chegar a um bom ponto, grave-se. Veja o resultado. Retrabalhe o que for necessário. E consulte pares ou professores para saber como está indo.

No final deste trabalho, você já terá internalizado como fazer e quando colocar o belting. Seu canto ficará mais bonito, mais impressionante e, claro, mais profissional.

Se gostou da explicação e das dicas, continue conosco. Nosso objetivo é tornar você um cantor ou uma cantora ímpar.

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Caso haja qualquer outra dúvida, comente. Entre em contato conosco. Será um prazer fazer, do belting, uma de suas técnicas de domínio.

Até a próxima, colega de canto.

About Mário Feitosa

Músico e compositor popular, o premiado escritor Mario Feitosa é especialista em tecnologia, poeta e redator. Baixista e violonista com décadas de experiência, seu compromisso é transformar a Música em matéria universal. site: https://www.cartolaeditora.com.br/usuario/mario-feitosa/

3 thoughts on “Belting: o que é, o que não é e como utilizar no canto

  1. Muuuuito bom!! Gostei demais! Seu texto me prendeu. Explicou o necessário, sendo direto ao ponto, com exemplos muito bem selecionados. Obrigado!

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