A música, como outras manifestações culturais, é objeto de experimentações. Muitos artistas ao longo da história quiseram romper com determinadas estruturas para encontrar novos caminhos rítmicos e harmônicos.
A música moderna emerge nesse contexto. Um misto de criatividade, ousadia e fuga da obviedade.
E como todo tipo de novidade na arte, esse movimento musical surgido na primeira metade do século XX causou estranheza.
Afinal, a arte pode evocar a beleza, mas também é capaz de chocar, de levar o ouvinte a outras reflexões sobre tudo o que o cerca.
Um pouco de história
Mas para entender um pouco sobre música moderna, vamos antes falar brevemente sobre os três períodos musicais que precederam o movimento modernista.
Primeiramente tivemos o período barroco, marcado pela música tonal.
As composições da época traziam ritmos precisos, muitos ornamentos e harmonias complexas, caracterizadas pelo cuidado na combinação das notas.
A seguir, veio o período clássico, em que não havia preocupação em se inserir ornamentos.
As composições eram mais diretas e simples, sem muitas “firulas”, se comparadas às da fase barroca. As linhas melódicas eram bem definidas.
Na sequência surgiu o período romântico, marcado por muito sentimentalismo. Suas melodias procuravam despertar emoções intensas, seja a paixão, alegria ou tristeza.
Tecnicamente, já não havia mais tanta regularidade na estrutura rítmica, a qual sofria variações ao longo da execução.
Neste ponto, houve uma quebra de paradigmas. E isto se intensificou, mais do que nunca, no modernismo.
Uso de dissonâncias
Compositores da música moderna começaram a explorar outras possibilidades harmônicas.
A inserção de dissonâncias em acordes, já presentes no final do período romântico – também chamado de “romantismo tardio” –, tornaram-se bem mais evidentes no modernismo.
A obra “Rapsódia sobre um Tema de Paganini”, do russo Sergei Rachmaninoff, é um exemplo disso.
Mesmo assim, esse compositor, que fez algumas das peças mais complexas da música erudita, tinha uma postura mais “conservadora” e não era muito adepto das tendências estéticas de sua época.
A música moderna e o impressionismo
O adjetivo “experimental” é o que talvez melhor defina a música moderna. Para os músicos desse movimento artístico do século XX, era importante mergulhar em outras alternativas.
Para isso, valia até mesmo pensar em novas construções harmônicas que rompessem a tradição.
É o caso da escala hexafônica, composta de seis sons, em vez das usuais sete notas. Criada pelo músico francês Claude Debussy, é também chamada de “debussyana”.
O uso de escalas não tão comuns, como a hexafônica, é uma das características da música impressionista, que é uma das vertentes do modernismo.
Surgido na França, o impressionismo, do qual Debussy é o seu principal representante, trazia composições mais curtas, que fugiam do formato de sinfonia e concerto.
Então, eram comuns os prelúdios, noturnos e arabesques, por exemplo, os quais são tipos de obras mais enxutas dentro da música erudita.
As linhas melódicas não apareciam tão definidas, mas eram mais simples e havia uso de dissonâncias na estrutura harmônica das peças.
O compositor francês utilizava diversos acordes de nona, décima primeira, décima terceira e sétima maior, por exemplo, que não eram usuais naquele tempo.
Enquanto o período romântico era caracterizado pela dramaticidade e emotividade intensas, a música impressionista trazia, por vezes, algo contemplativo, etéreo.
Sobre isso, aqui vai uma dica: ouça “Claire de Lune”, de Debussy. É um verdadeiro convite à contemplação da lua. Aliás, foi em um momento assim que o compositor se inspirou na criação de sua obra mais célebre.
De tão inspiradora, a peça é como uma pintura impressionista, mas em forma de música.
Outro grande nome da música impressionista foi Maurice Ravel, compositor claramente influenciado por Debussy.
Até 1914 suas obras foram associadas a esse movimento artístico, como é o caso de “Jeux d’Eau”, “Tróis Poèmes de Stéphane Mallarmé” e “Quarteto de Cordas em Fá Maior”.
A partir desse período, as composições de Ravel penderam para outro movimento da música moderna, o neoclassicismo.
Neste caso, houve um resgate de estruturas do período clássico, sem o uso de dissonâncias e com preferência aos acordes simples. É nesse contexto que surge a obra mais conhecida e popular do compositor: “Bolero”.
Atonalidade
Você já imaginou uma canção sem um centro tonal, ou seja, sem um tom que defina aquela melodia? Pois isso aconteceu na música moderna.
É algo meio caótico, como se não soubéssemos para qual caminho aquela obra vai seguir.
A opção pela atonalidade se fez mais presente no século XX, mas já havia registros anteriores. É o caso de “Bagatelle Sans Tonalité”, composição de 1885 de Franz Liszt.
Porém, ainda não havia um movimento forte nesse sentido, o que só ocorreu vários anos mais tarde.
Quem se destacou como um dos principais nomes da música atonal foi o austríaco Arnold Schoenberg.
Ele criou diversas peças com características de “cromatismo livre”, ou seja, notas atuando de forma independente na escala cromática. Uma dessas composições é “Pierrot Lunaire”, de 1912.
Podemos, ainda, citar diversos outros compositores, inclusive brasileiros, que aplicaram a atonalidade em algumas de suas criações. Alguns exemplos:
- Alban Berg
- Béla Bartók
- Igor Stravinsky
- Charles Ives
- Sergei Prokofiev
- Arrigo Barnabé
- Jorge Antunes
- Itamar Assumpção
Dodecafonismo
O próprio Schoenberg, em dado momento, admitiu que a música atonal seria caótica demais. Assim, pensou em outras formas de ordenar as notas, mas que fugissem do sistema tonal tradicional.
A partir dessa experimentação surgiu o dodecafonismo, que traz os 12 sons da escala cromática ordenados sem hierarquia.
“Phantasy for Violin, Op. 47”, com acompanhamento de piano, é uma das obras com essa característica. Foi composta por Schoenberg em 1949.
Veja, a seguir, exemplos de outros músicos que já aplicaram o dodecafonismo em composições:
- Frank Zappa
- Edino Krieger
- Tom Jobim
- Egberto Gismonti
- Guerra Peixe
- Cláudio Santoro
- Anton Webern
- Steve Vai
- Aaron Copland
- Igor Stravinsky
- Brian Ferneyhough
O pós-modernismo
Ao longo desse artigo vocês puderam conhecer alguns dos principais elementos que compõem o período modernista ou música moderna.
Mas o experimentalismo tão característico desse movimento musical não parou por aí.
Surgiram outras vertentes que, para determinados teóricos, integram o chamado pós-modernismo.
Entretanto, há quem considere tudo o que foi produzido do início do século XX para cá, simplesmente como “música moderna”.
Exemplos de tendências mais recentes nesse sentido são a música eletroacústica, a música concreta, a música aleatória e o minimalismo.
Algumas criações dessa fase pós-moderna chegam a ser questionáveis sob o ponto de vista musical.
Nessa tentativa de experimentação e quebra de paradigmas, houve compositor que chegou a suprimir os sons dos instrumentos musicais. Isso mesmo.
O norte-americano John Cage fez essa inusitada proposta na obra “4’33”, de 1952. Cabia ao instrumentista da peça ficar parado durante 4 minutos e 33 segundos em frente ao seu instrumento, mas sem tocá-lo.
Estranho, não é mesmo? A ideia era que esse silêncio fosse preenchido apenas pelo som ambiente.
Tudo isso mostra o quanto a música é plural e objeto de infinitas possibilidades, mesmo que em alguns casos seja fonte de muita polêmica.
Criar faz parte do estado puro da arte. E criar exige ousadia e uma boa dose de liberdade para romper com os próprios limites.
A música permite isso. Se você compõe, permita-se. Sonhe. Ouse. Liberte-se! A música é movimento. E você faz parte dessa história.
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