Concerto musical: valorizando o talento dos bons instrumentistas

Quando você planeja assistir a um concerto musical, o que lhe vem à mente? Um show qualquer ou algo mais específico? Na realidade, existe tanto o conceito mais amplo sobre esse termo quanto o mais restrito. E é isto que iremos esclarecer ao longo de artigo.

Também falaremos sobre aspectos históricos acerca desse tema, a origem do termo “concerto musical” e alguns dos principais elementos contidos nesse tipo de apresentação artística.

Vamos lá?

Definição de concerto musical

Originalmente, o concerto musical surgiu como um tipo de peça exclusivamente instrumental, por volta do século XVII, durante o período da Música Barroca.

Porém, para que seja realmente um concerto, é preciso que haja um instrumento solo ou um grupo de instrumentos que atue como destaque na obra e o restante da orquestra ou conjunto instrumental esteja em segundo plano, mas sempre em “diálogo” com os solistas.

Há, ainda, mais uma peculiaridade importante na caracterização de um concerto musical. Por exemplo: a peça “Gabriel’s Oboe”, de Ennio Morricone, feita para a trilha sonora do filme “A Missão”, traz um instrumento solista, o oboé, acompanhado de orquestra. A princípio seria um “concerto”, certo?! Entretanto, tecnicamente esta música não é classificada desta forma.

O motivo é que um concerto é uma composição musical tipicamente estruturada em pelo menos dois movimentos e apresentação de um ou mais solistas. Em contraste, “Gabriel’s Oboe” é uma peça única e independente, sem estar alicerçada em diversos movimentos, como é o usual nos concertos de música erudita.

Já na música popular existe um conceito mais amplo, de um show para grandes plateias e com entrada paga. É o caso de um “concerto de rock”, por exemplo.

Não há a ideia de se colocar um instrumento específico em posição destacada, como num concerto de música erudita. Há, simplesmente, uma apresentação musical cujo acesso é feito por meio de ingressos vendidos ao público.

Etimologia do termo “concerto”

Para melhor compreensão de toda a conceituação em torno do tema, vamos primeiramente entender a etimologia do termo, ou seja, qual a origem linguística de “concerto”.

Esta palavra deriva do latim, a partir de dois vocábulos:

  • Consertatum: que significa “competir” ou “combater”.
  • Conserere: verbo derivado de “concertum”, definido como “entrelaçar”, “atar”.

O compositor alemão Michael Pretorius, no século XVII, preferia a ideia de “duelo” entre os instrumentos. Já outro músico alemão, Hugo Daffner, defendia, no século XIX, a concepção de diálogo, mais próximo ao significado do verbo “conserere”.

De fato, ao assistirmos a um concerto de música erudita, a impressão principal é de uma “conversa”, mesmo que um instrumento ou um grupo esteja em maior relevância no contexto da obra.

Os primórdios do concerto musical: o concerto grosso

Fotografia antiga de pessoas assistindo uma exibição

Historicamente, a primeira modalidade de concerto musical desenvolvida foi o chamado “concerto grosso”, que se consolidou durante todo o período da música barroca.

Provavelmente você deve ter achado este termo pra lá de estranho. Mas vamos esclarecer as coisas.

O concerto grosso surgiu na Itália e, em italiano, “grosso” quer dizer, simplesmente, “grande”.

A principal característica deste tipo de concerto musical é que a proeminência na execução da obra fica a cargo não de um solista, mas de um grupo de instrumentistas, chamado de “concertino”.

Já o restante da orquestra, em tamanho maior, é denominado de “ripieno”. Quando essas duas partes se fundem, temos, por fim, o “tutti”.

Para sustentar musicalmente tanto o concertino, quanto o ripieno ou o tutti, há o baixo contínuo, técnica de composição utilizada amplamente nas composições da música barroca.

Nos “concerti grossi” – plural de “concerto grosso” em italiano – o concertino era formado principalmente por instrumentos de corda, em geral dois violinos e um violoncelo.

O pioneiro na utilização do formato do concerto grosso foi, provavelmente, Alessandro Stradella, com a peça “Sonate di viole”, sendo o concertino composto de dois violinos. Já Arcangelo Corelli se destaca por ter sido o primeiro a utilizar a designação “concerto grosso”, por meio de seu trabalho Op. 6. A obra completa foi escrita em 1680, mas só publicada em 1714.

Giuseppe Torelli também é um dos pioneiros em utilizar esse termo com os “Concerti Grossi” op. 8, em 1709.

Houve, ainda, outros compositores italianos conhecidos por produzir diversos “concerti grossi”, como Francesco Manfredini, Francesco Geminiani e Pietro Antonio Locatelli.

O concerto grosso além da Itália

Como foi bastante disseminado no período barroco, o concerto grosso não ficou restrito aos italianos. O alemão Johann Sebastian Bach, como o nome musical mais célebre dessa época, utilizou esse formato em algumas de suas criações.

É o caso de alguns dos famosos “Concertos de Brandenburgo” (BWV 1046-1051), um conjunto de seis peças publicadas entre 1718 e 1721.

Segundo escreveu o maestro João Maurício Galindo em seu blog, essas obras de Bach são “concerti grossi levados à mais alta elaboração”, apesar de não levarem oficialmente a alcunha de “concerto grosso”.

Entre essas seis peças, vale mencionar o “Concerto no 2 em Fá Maior” (BWV 1047), o qual traz três movimentos: allegro moderato, andante e allegro assai. O concertino é composto por trombeta em F, flauta doce, oboé e violino. Já o ripieno inclui dois violinos, viola, violone (semelhante ao contrabaixo) e baixo contínuo executado pelo cravo.

O “Concerto no 4 em Sol Maior” (BWV 1049), outra peça dos “Concertos de Brandenburgo, também é dividido em três movimentos: allegro, andante e presto. Porém, tem uma composição instrumental diferente: um violino e duas flautas doces no concertino; e dois violinos, duas violas, dois violoncelos, um violone e baixo contínuo no ripieno.

O compositor alemão Georg Friedrich Händel foi outro destaque na criação dos “concerti grossi”. Assim como Bach, ele não se restringiu aos instrumentos de cordas no concertino. É o que ocorre no “Concerto Grosso Op. 3 no 4 em Fá Maior”, de 1734, em que são introduzidos dois oboés no grupo instrumental principal.

A evolução do concerto musical

Teatro de arquitetura antiga em exibição um concerto musical

Após o período Barroco e com o advento do Classicismo, no século XVIII, o concerto musical passou por algumas transformações.

Desta vez, o grupo de instrumentos – o concertino – do concerto grosso deu lugar ao instrumento solista acompanhado de orquestra, a qual poderia ser completa, de cordas ou de câmara. A sensação de contraste entre o solista e a parte orquestral era bem clara e perceptível.

No Romantismo, essa tendência ficou ainda mais evidente, com destaque para o piano, que se tornou o principal instrumento solista em concertos musicais.

Alguns compositores chegaram a incluir em suas obras a chamada “Candenza” – ou cadência –, em que a orquestra parava a execução em determinado ponto da obra e o solista tocava sozinho, às vezes de forma improvisada.

Outro aspecto curioso sobre o concerto musical é a utilização de instrumentos incomuns a esse formato. Isto ocorreu principalmente no século XX, com a música moderna.

Exemplos disso são o “Concerto de Aranjuez”, de Joaquín Rodrigo, feito para violão e orquestra, em 1939; e o “Concerto suíte para guitarra elétrica e orquestra”, de Yngwie J. Malmsteen, de 1998.

O concerto musical no dia a dia

Escutar ou assistir a bons concertos pode ser uma boa alternativa para enriquecer sua cultura musical no dia a dia. Sem dúvida, é uma experiência enriquecedora e gratificante. Por esta razão, damos aqui algumas dicas para você desfrutar ao máximo dessas apresentações:

  • Pesquise programações locais: verifique os calendários de concertos musicais em sua região. Visite continuamente os sites de teatros, salas de concerto e instituições musicais, os quais divulgam sua programação.
  • Explore plataformas online: muitas orquestras e músicos eruditos apresentam seu trabalho na Internet. Você pode encontrar concertos musicais gravados e transmissões ao vivo em plataformas como YouTube e Vimeo.
  • Assista a palestras e entrevistas: escutar um bom concerto musical já é uma experiência maravilhosa, a qual pode ser ainda melhor se você também assistir a palestras e discussões sobre música erudita. Este tipo de atividade pode aprofundar sua compreensão e apreciação desse tipo de música. O próprio YouTube traz diversos conteúdos educacionais com essa temática.
  • Participe de workshops e masterclasses: muitos músicos e instituições oferecem workshops e masterclasses abertos ao público. São atividades praticamente obrigatórias para qualquer estudante de algum instrumento, mas a plateia em geral também é imensamente beneficiada, ao aprender mais sobre instrumentos e técnicas musicais.

E então? Gostou das dicas? Fique conosco para mais informações sobre o universo da música e do canto. Até a próxima!

About Luciana Amaral

Luciana Amaral é cantora profissional, jornalista, revisora e redatora freelancer. Já participou de vários cursos de canto, como o Modern Mix Voice, do professor Caio Freire; Solte Seu Belting, do professor André Barroso; Canto Popular, durante o Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília (Civebra); e Congresso Online de Voz Cantada, realizado pela Faculdade Novo Horizonte e pela professora Flávia Caraíbas. https://www.instagram.com/luciana.amaral_cantora/

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