Voz de cabeça: o que é e como fazer

Se você é aluno de canto, já deve ter ouvido falar da “voz de cabeça”. Mas o que é isso, afinal?

Trata-se, na realidade, de um modo didático de traduzir uma sensação. Ao cantar notas agudas, o som parece ressoar na cabeça, como se estivesse sendo produzido diretamente nessa região.

Porém, em termos fisiológicos, o que acontece é bem diferente, como explicaremos logo adiante.

Registros vocais

Entenda como funciona a voz de cabeça

A “voz de cabeça” é chamada tecnicamente de registro tênue, segundo a fonoaudióloga e teórica do canto Silvia Pinho.

Este é apenas um dos vários registros vocais, que são definidos de acordo com o conjunto de notas emitidas com mecanismos semelhantes e grau de espessamento das pregas vocais.

Temos, então, do grave para o agudo, os seguintes registros, de acordo com a especialista: basal ou “vocal fry”, modal – dividido em denso (voz de peito), médio e tênue –, elevado (falsete), flauta e assobio (whistle).

E como a voz é produzida, afinal?

Para entendermos a voz de cabeça, precisamos, antes, compreender como os sons são emitidos.

Ao expirar, o ar vem dos pulmões e passa pelas pregas vocais, gerando o “som fundamental”. Este som é, então, moldado no trato vocal, formado pela língua, lábios, palato duro, palato mole e faringe.

Funciona tal qual uma caixa de som ou a caixa de ressonância de um violão.

Dependendo de como essas estruturas se comportam, sua voz será produzida com maior ou menor dificuldade.

Se você, por exemplo, abrir mais a sua cavidade oral e levantar o palato mole, terá mais espaço de ressonância no trato para a sua voz fluir.

Caso os espaços internos estejam muito pequenos, o som vai sair apertado e esganiçado. E isso tem tudo a ver com a qualidade do seu canto e com a capacidade de atingir notas agudas!

Ou seja: moldar bem o trato vocal é fundamental para executar a voz de cabeça com qualidade.

O que acontece quando fazemos a voz de cabeça?

voz cabeca 7

Como foi dito, o som é produzido a partir das pregas vocais e moldado no trato vocal. Quanto mais curtas e espessas estiverem as pregas, mais graves serão as notas emitidas.

Neste caso, um músculo específico da laringe, chamado tireoaritenoideo interno (TA), entra em ação.

À medida em que o cantor sai do grave e vai para o agudo, outro músculo, o cricotireoideo (CT), passa a predominar, deixando suas pregas mais esticadas e finas. Temos, então, a voz de cabeça.

Voz de cabeça x falsete

Se as notas agudas estão intimamente ligadas à voz de cabeça, qual a diferença desse registro para o falsete?

Antigamente, o falsete era atribuído a homens que tentavam entoar notas agudas, gerando um som semelhante ao percebido nas vozes femininas. Por esta razão, era considerada uma voz “falsa”.

Hoje, define-se o falsete como uma voz aguda soprosa e com volume reduzido, gerada por pregas vocais muito abertas durante a emissão. Tanto homens quanto mulheres podem produzi-lo.

Já a voz de cabeça é aguda, firme e sem soprosidade, com pregas vocais mais aduzidas (fechadas).

Flauta e whistle x Voz de cabeça

Os registros de flauta e whistle, por sua vez, diferem da voz de cabeça e do falsete, por se caracterizarem como emissões superagudas.

Na flauta, as pregas vocais estão extremamente alongadas e apresentam pouquíssima massa vibratória.

Já no whistle, acredita-se que não haja mais vibração das pregas, gerando um som semelhante ao apito.

Alguns intérpretes utilizam esses registros como forma de destacar suas habilidades e de impressionar os ouvintes.

É o caso da cantora norte-americana Mariah Carey e do brasileiro Gabriel Henrique. Contudo, é preciso parcimônia no uso desses recursos.

Exercícios para a voz de cabeça

Exercícios para voz de cabeça

Se você chegou até aqui e está confuso sobre como encontrar sua voz de cabeça, existem exercícios muito práticos e fáceis para ajudá-lo nessa tarefa. Demonstraremos logo abaixo.

Então vamos lá?

1º. UHULL ou IUPI – Imagine que você tenha acabado de ganhar na Mega-Sena. Diga “Uhull” ou “Iupi” bem firme, em nota aguda, como se estivesse comemorando.

Pronto! Viu como é mais fácil do que você imaginava? Faça 10 repetições ao dia, para se acostumar.

2º. POU – Execute o mesmo exercício anterior, com voz firme e aguda, desta vez com a sílaba “POU”. A prática irá ajudá-lo a evitar o excesso de soprosidade e obter agudos mais potentes.

3º. Bocejo com som – Faça vários bocejos, emitindo o som mais agudo possível. Esse exercício auxiliará no alcance de notas agudas e ampliará espaços no trato vocal. Repita 10 vezes ao dia.

4º. HO, HO, HO – Esse exercício visa imitar a famosa saudação do Papai Noel ou a “voz do vovô”. A ideia, aqui, não é fazer notas agudas, mas abrir espaço no trato vocal e abaixar a laringe. Isso evita que o cantor esgoele ou sua voz fique esganiçada.

Lembre-se: cantar exige equilíbrio e não é preciso “forçar a barra”, para alcançar a nota desejada. Utilizar apenas o TA, sem a transição adequada para o CT quando necessário, pode causar danos às pregas vocais.

Esgoelar é sinônimo de laringe demasiadamente alta, constrição da faringe (diminuição de espaços no trato vocal) e resultado estético ruim. Cuidado!

5º. Espaguete – Sopre para dentro, como se estivesse degustando um espaguete. Faça isso 10 vezes. O objetivo é abaixar a laringe.

6º. Glissando – Glissar é sair de uma nota a outra sem interrupções, como se estivesse “escorregando”. Assemelha-se ao som de uma sirene. Faça isto diariamente, do grave ao agudo, utilizando vogais.

7º. Glissando com vibração labial ou de língua – Execute o mesmo exercício anterior, mas com “BR” ou “TR”, vibrando os lábios ou a língua. Se tiver dificuldade, pode segurar as laterais dos lábios com a ponta dos dedos.

Dicas valiosas

Observação importante: os exercícios 6 e 7 ajudam também a solucionar a quebra de registro, ou seja, a passagem brusca entre a voz de peito e de cabeça.

É comum, nesses casos de quebra, a nota sair desafinada ou o som se tornar desagradável ao ouvinte.

Mais uma razão da importância de se saber coordenar o uso dos músculos TA e CT, durante o canto.

Então amigos chegamos ao fim do nosso artigo, esperamos sinceramente que tenha sido proveitoso para você.

Se você gostou participa abaixo no campo de comentários. Será um prazer conversar com você.

Obrigada, até a próxima!

About Luciana Amaral

Luciana Amaral é cantora profissional, jornalista, revisora e redatora freelancer. Já participou de vários cursos de canto, como o Modern Mix Voice, do professor Caio Freire; Solte Seu Belting, do professor André Barroso; Canto Popular, durante o Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília (Civebra); e Congresso Online de Voz Cantada, realizado pela Faculdade Novo Horizonte e pela professora Flávia Caraíbas. https://www.instagram.com/luciana.amaral_cantora/

4 thoughts on “Voz de cabeça: o que é e como fazer

  1. esse de cantar uhuuuuuu ou iupi , não consigo,nem fazer som de sirene,já tentei mais não consigo essa voz de cabeça,há algo que eu possa fazer?

    1. Olá! Entendo, no ínicio pode parecer complicado a voz de cabeça. Aqui estão algumas dicas específicas que podem te ajudar:

      Aquecimento Vocal: Sempre faça um bom aquecimento vocal antes de tentar esses sons. Isso pode incluir exercícios de respiração, escalas e arpejos para preparar suas cordas vocais.

      Exercícios com Sons Suaves: Comece com sons mais suaves e mais fáceis de controlar, como “hum” ou “mee”. À medida que se sentir confortável, você pode tentar os sons mais desafiadores, como “uhuuuu” ou “iupi”.

      Paciência e Persistência: Desenvolver a técnica correta leva tempo e paciência.

      Continue trabalhando nisso e não desanime, pois a prática levará à melhoria. Essas dicas podem ajudá-lo a trabalhar na voz de cabeça e a alcançar os sons que você deseja produzir.
      Boa sorte! 🎶

  2. Muito obrigada pelas dicas. Preciso melhorar minha voz de cabeça, ela sai sempre fina e fraca, sinto aperto na laringe e dor quando subo muito (usando só a voz de peito).

  3. Agradeço pelas dicas e exercícios, foram muito importantes e bem ilustrados de fácil compreensão. Abraços.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *