É fato que a música mexe com nossas emoções. Pode nos deixar alegres, tristes, tranquilos ou agitados, dependendo do que escutamos. Mas o mais interessante é que ela pode ser um instrumento terapêutico.
É aí que entra a chamada musicoterapia, uma metodologia que ajuda a prevenir e tratar problemas de saúde, inclusive psicológicos.
Mas como isso funciona, quando surgiu e quais os seus reais benefícios? É o que vamos descobrir a partir de agora. Fique com a gente!
O que é musicoterapia?
Existe um enorme arcabouço terapêutico disponível para se tratar doenças físicas e mentais. Mas a musicoterapia chama a atenção por lançar mão da música como ferramenta principal para promover a saúde física e mental.
Essa informação é preciosa. Afinal de contas, a música faz parte de nossas vidas desde o ventre materno. E utilizar algo tão agradável como um meio de cura é simplesmente sensacional, não é mesmo?
Para isso, o ritmo, a melodia, a harmonia e até e a letra podem ajudar a atingir objetivos terapêuticos, como melhorar a socialização, a comunicação, a coordenação motora, a cognição e muito mais.
E não pense que isso é coisa de “esotéricos” ou de experimentos sem fundamentos científicos.
Na realidade, existem muitos estudos e ciência envolvida nesse método, a ponto de ser uma prática comum em hospitais, clínicas, escolas e outras instituições de saúde e bem-estar.
Breve história da musicoterapia
Mas antes de falarmos da ciência por trás da musicoterapia, vamos conhecer alguns elementos históricos que contam o desenvolvimento desse método terapêutico.
A musicoterapia enquanto prática reconhecida e regulamentada é algo muito recente. Entretanto, o uso da música na saúde ou até em problemas espirituais é algo milenar, remontando à Antiguidade.
Na Bíblia, por exemplo, o livro de Samuel, em seu capítulo 16, versículo 23, diz que Davi tocava harpa quando um espírito mau se apossava de Saul.
Já entre os gregos, vemos registros da influência da música nas emoções. Aristóteles reconhecia que as pessoas reagiam de modo distinto às melodias. Elas poderiam provocar efeitos que variavam da melancolia e “enfraquecimento do espírito” até o entusiasmo.
No livro “Tratado de Musicoterapia”, de 1977, a autora Clotilde Espínola Leinig cita as observações de Aristóteles sobre o quanto a música poderia provocar a catarse de emoções.
Ela diz, ainda, que Platão recomendava a música para tratar “angústias fóbicas”, enquanto o médico Esculápio prescrevia música para “pessoas com a mente perturbada”.
Inclusive, segundo a autora, Platão e Aristóteles podem ser considerados os grandes precursores da musicoterapia.
Já na Idade Média, Ibn Sīnā, conhecido como Avicena, um dos expoentes da medicina árabe na época, utilizava a música como uma espécie de “medicamento”.
Ao longo dos séculos a aplicabilidade da música em terapias sofreu altos e baixos, até se firmar no século XX.
Portanto, não se trata de um método novo, mas algo redescoberto, aperfeiçoado e, finalmente, reconhecido como prática terapêutica.
Nos anos 40, muitos músicos tocaram em hospitais para amenizar o sofrimento dos soldados feridos na Segunda Guerra Mundial.
E foi justamente nessa época, em 1944, que o termo “musicoterapia” foi utilizado de fato pelo músico e psiquiatra norte-americano Everett Thayer Gaston.
Segundo ele, em sua obra “Tratado de Musicoterapia”, de 1968, “a música e terapia têm sido íntimos companheiros, muitas vezes inseparáveis, durante a maior parte da história do homem”.
Anos mais tarde, ele observou que alguns dos principais efeitos dessa prática em hospitais psiquiátricos na década de 1960 foram o alívio de tensões e melhora da autoestima.
A musicoterapeuta Juliette Alvin também desenvolveu um trabalho pioneiro em pacientes com transtornos mentais. Além disso, ela ficou conhecida pelo uso da musicoterapia em crianças autistas.
No artigo “A História da Musicoterapia na Saúde Mental: dos usos terapêuticos da música à musicoterapia”, os autores Adriano Holanda e Mariana Cardoso Puchivailo escrevem que, de acordo com Alvin, a música “criava pontes entre a realidade e o mundo isolado em que muitas vezes os pacientes com enfermidades mentais se encontravam em busca de refúgio”.
A musicoterapia no Brasil
Essa intervenção terapêutica também teve grande desenvolvimento no Brasil, principalmente com o surgimento das primeiras formações de profissionais na área.
Em 1970 foi criado o primeiro curso de especialização em musicoterapia na Faculdade de Artes do Paraná. Dois anos depois, surgiu o primeiro curso de graduação na área, no Conservatório Brasileiro de Música do Rio de Janeiro.
Ainda nesse período a professora Clotilde Leinig, que citamos anteriormente, destacou-se por ser uma das precursoras em estudos e obras sobre musicoterapia.
Nas décadas seguintes surgiram vários outros importantes estudiosos brasileiros do tema, mostrando principalmente a aplicação desse tipo de intervenção terapêutica na saúde mental.
Benefícios da musicoterapia
Apesar da grande utilização em questões relacionadas à saúde mental, a musicoterapia tem aplicação mais ampla.
Alguns de seus benefícios são a melhora da memória, concentração e coordenação motora, sendo eficaz para problemas diversos, indo do TDAH ao mal de Alzheimer.
Também serve como terapia coadjuvante para autismo, já que diminui o estresse; aumenta a autoestima, a autoconfiança e a criatividade; e promove a socialização e a integração social.
O músico e médico neurologista Mauro Muszkat, da Unifesp, relata no artigo “Música e Neurodesenvolvimento: em busca de uma poética musical inclusiva” o quanto a música é capaz de gerar efeitos clínicos positivos na precisão dos movimentos da marcha e no controle postural.
Além disso, segundo o especialista, facilita a expressão de estados afetivos e comportamentais em indivíduos com depressão e ansiedade.
O médico destaca, ainda, os benefícios da música em transtornos do desenvolvimento, como déficit de atenção, dislexia e doença de Parkinson.
Ele explica que danças, ritmos ou jogos musicais potencializam técnicas de restabelecimento físico e cognitivo, podendo evocar emoções e trazer à tona memórias ocultas.
“É reconhecido também o fato de a aptidão musical e a apreciação serem habilidades que permanecem intactas ou muitas vezes tardiamente afetadas em diversos indivíduos com demência”, observa.
Alguns estudos sobre a eficácia da musicoterapia
Como falamos no início desse artigo, existem bases científicas que sustentam os benefícios da musicoterapia para vários problemas de ordem mental, física ou educacional.
A seguir, alguns exemplos. É só clicar e ver o estudo correspondente:
Quem pode aplicar a musicoterapia
A forma de direcionar os benefícios da música para determinados fins não é uma tarefa simples. E é por isso que a musicoterapia só deve ser aplicada por um musicoterapeuta qualificado.
Esse especialista saberá como combinar elementos como ritmo, harmonia e melodia para atingir objetivos terapêuticos específicos.
Para aplicar essa intervenção na prática são utilizados tanto o método receptivo, em que o paciente escuta a música executada pelo musicoterapeuta; quanto o método ativo, em que o paciente participa ativamente do processo terapêutico, seja cantando, tocando instrumentos ou dançando.
Seja qual for o processo utilizado, o importante é que, antes de contratar um musicoterapeuta, certifique-se de que ele realmente tem a formação que ostenta.
E você? Já pensou em utilizar os serviços de um musicoterapeuta por alguma razão? Conte um pouco de sua experiência nos comentários abaixo.
É sempre enriquecedor conhecer histórias de nossos leitores. Até a próxima!