Música eletrônica: a tecnologia a serviço da arte

Nomes como David Guetta, Alok, Calvin Harris e Steve Aoki ganharam notoriedade no mundo musical nos últimos anos, pelo trabalho realizado como DJs – ou Disc Jockeys.

Eles são responsáveis, em grande parte, pelo sucesso da chamada música eletrônica. A princípio, esse termo soa como algo artificial ou apenas um artifício tecnológico para criar sons. Mas seria isso mesmo?

Neste artigo, vamos esclarecer o que é a música eletrônica, suas vertentes e mostrar que não se trata de algo exclusivo de DJs, apesar de integrar de forma importante o repertório desses profissionais.

Definição de música eletrônica

Mesa de aparelhos para produção de música eletrônica

Qualquer música composta ou alterada por meio de aparelhos ou instrumentos eletrônicos é considerada “música eletrônica”. E inclui tecnologia de produção de áudio para criar uma sonoridade diferenciada, com uso de samplers, sintetizadores, batidas eletrônicas, entre outros.

Trata-se de um gênero bastante recente, surgido dentro do universo da música erudita contemporânea, mas logo predominou na música popular.

As raízes da música eletrônica

Antes que existisse a música eletrônica propriamente dita, inventores, engenheiros e outros profissionais se debruçavam em experimentos para extrair sons de aparelhos eletroacústicos.

Desta forma, surgiram invenções como o telarmônio, uma máquina de grandes dimensões que produzia frequências sonoras utilizando indutores eletromagnéticos. O engenheiro Thaddeus Cahill, que desenvolveu o aparelho no final do século XIX, tinha como objetivo transmitir música em locais diversos utilizando a linha telefônica.

Outra invenção interessante foi o teremim, criado pelo inventor russo Leon Theremin em 1920 e patenteado em 1928.

Mulher tocando o instrumento Teremim

Esse instrumento eletrônico produzia um som diferente de tudo o que se conhecia até então, utilizando antenas que captavam o volume e a frequência. Detalhe: esse controle era feito sem contato físico, o que atraiu a atenção de compositores experimentais.

Pouco depois, o inventor russo vendeu os direitos de produção à empresa norte-americana RCA (Radio Corporation of America), fabricante de eletrônicos. Assim, foi lançado o Thereminvox.

A musicista Clara Rockmore, por sua vez, passou a difundi-lo, fazendo shows com repertório erudito. A intenção era que o instrumento ganhasse popularidade. Entretanto, a dificuldade em tocá-lo desanimou muita gente e atrapalhou os planos da empresa.

Seja como for, existem até hoje fabricantes de teremins, inclusive produtores artesanais, o que é um estímulo para o surgimento de novos “teremistas”.

Sintetizadores Moog

O músico e engenheiro Robert Moog, por exemplo, foi um dos entusiastas do teremim e começou a construir instrumentos desse tipo na década de 1950.

Porém, sua maior contribuição para o desenvolvimento da música eletrônica ocorreu em 1964, quando criou, juntamente com o compositor Herbert Deutsch, o sintetizador “Moog”.

A invenção permitiu que músicos extraíssem sons a partir da manipulação de ondas sonoras, utilizando um teclado. Desta forma, abriu caminho para uma geração de equipamentos que passaram a ser utilizados largamente na música eletrônica.

A evolução da música eletrônica

Apesar de instrumentos como o teremim estarem na raiz da música eletrônica, o surgimento desse estilo ocorreu, de fato, em 1948, quando o francês Pierre Schaeffer, idealizador da chamada “música concreta”, realizou o “Concerto de Ruídos”.

A receptividade do público não foi lá muito boa, pois se tratava de uma coletânea de ruídos entremeada por momentos de silêncio.

E a ideia da música concreta era exatamente esta: gravar desde sons do ambiente até instrumentos musicais e mixá-los, de forma a compor peças musicais, ainda que elas soassem estranhas a ouvidos não habituados.

Os franceses, inclusive, foram os criadores das primeiras mixagens, recurso hoje comum entre os DJs e parte intrínseca da música eletrônica.

Os alemães também se destacaram, mas seguindo uma outra corrente, a Elektronische Musik, em 1949. Naquele ano, na cidade de Colônia, os compositores Herbert Eimert e Robert Beyer fizeram alguns experimentos com artefatos eletrônicos na rádio NDWR.

Nesta mesma emissora, em 1951, Eimert e Werner Meyer-Eppler criaram o primeiro Estúdio de Música Eletrônica, utilizado, inclusive, por Karlheinz Stockhausen, um dos nomes mais importantes do movimento da Elektronische Musik.

Mesa grande de equipamentos para música

Em 1971, Stockhausen compôs uma de suas peças musicais mais icônicas: “Stern-klang”.

A obra, resultado de uma encomenda do governo alemão para uma homenagem à cidade de Colônia, deveria ser executada por vários intérpretes e instrumentistas, com inclusão de sintetizadores.

Trata-se de um exemplo do que Stockhausen denominou como “música espacial”, ou seja, aquela que “não é apenas para ser ouvida, mas também para ser vista e sentida fisicamente”.

Para isso, foi utilizado um sistema de cinco canais distribuídos ao ar livre. Os alto-falantes foram colocados em lugares específicos, permitindo ao público experimentar a música em diferentes posições.

A peça foi iniciada com sons eletrônicos de alta frequência, seguidos de outros produzidos pelo próprio ambiente e por instrumentos musicais e vozes humanas.

A Influência Pioneira no Krautrock

“Stern-klang” foi um marco na música eletrônica, tendo sido apresentada em diversos lugares do mundo.

Com isso, o autor influenciou um grupo expressivo de músicos em um subgênero da música eletrônica, o krautrock, caracterizado pelo uso de instrumentos eletrônicos e experimentação sonora.

Este subgênero teve um impacto significativo no desenvolvimento do rock progressivo, influenciando artistas como David Bowie, Brian Eno e Radiohead.

O sucesso da banda Kraftwerk

Ainda nos anos 70, a banda alemã Kraftwerk se aproveitou dos experimentos de Stockhausen, utilizando sintetizadores e outros instrumentos eletrônicos em suas composições.

Em 1974, o grupo lançou o álbum Autobahn, seu primeiro grande sucesso, com direito a elogios até mesmo de David Bowie. O músico, ao escutar o disco, declarou que aquela era a “melhor banda do mundo”.

Assim, o grupo ficou conhecido não só na Alemanha, como também em toda a Europa, tornando-se um dos mais importantes da história da música eletrônica.

Considerado precursor da dance music, o Kraftwerk influenciou gerações de músicos e bandas, como New Order, Depeche Mode e Joy Division.

A tecnologia da música eletrônica na música instrumental

Nas décadas seguintes, o desenvolvimento tecnológico contribuiu decisivamente para a consolidação e versatilidade da música eletrônica, a ponto de não ser apenas fruto de experimentos com máquinas, mas um gênero musical à parte.

Nos anos 80, por exemplo, surgiram nomes que ficaram famosos mundialmente na música eletrônica. É o caso do francês Jean-Michel Jarre, autor do hit “Fourth Rendez-Vous”.

O músico utilizava teclados, sintetizadores e outros instrumentos eletrônicos em suas apresentações, além de elementos cênicos, como feixes de laser e fogos de artifício.

Algo que certamente serviu de inspiração para os grandes espetáculos recentes de DJs como David Guetta e Alok.

Outro nome que vale destacar, na época, é o grego Vangelis, autor das trilhas sonoras dos filmes “Carruagens de Fogo” e “Blade Runner: o Caçador de Androides”.

Em ambas as trilhas é possível perceber características peculiares de composição do músico grego, o qual misturava a música eletrônica e progressiva com o estilo neoclássico.

Subdivisões da música eletrônica

A música eletrônica gerou uma série de subgêneros além do krautrock, como techno, trance e house, cada um com suas próprias características, elementos sonoros e estilos de produção.

Vamos conferir um pouco mais sobre algumas dessas vertentes:

  • Techno: este subgênero foi criado por Juan Atkins, Kevin Saunderson e Derrick May em Detroit, nos Estados Unidos, durante os anos 80. O trio realizava experimentos com instrumentos tecnológicos que começaram a se popularizar na época, como a drum machine Roland TR-808.

    São características típicas do techno as batidas aceleradas e bem acentuadas. A banda Kraftwerk está entre as que mais influenciaram no surgimento do estilo.
  • House: surgido em Chicago (EUA) nos anos 80, este subgênero é considerado uma evolução da disco music, com batidas rápidas e ritmo dançante. Pioneiros do estilo: Frankie Knuckles e Tony Humphries.
  • Trance: estilo com influências do house, techno e new beat, trazendo batidas repetitivas e muito aceleradas, de até 150 bpm. Assim como no techno, há aqui também influência clara da banda Kraftwerk.

    Apesar de ter se desenvolvido como estilo apenas nos anos 90, é possível encontrar elementos do trance em hits mais antigos, como “I Feel Love”, de Donna Summer (1977).  Alguns sucessos desse subgênero: “For an Angel”, de Paul van Dyk (1998); “What it Feels Like for a Girl”, de Madonna (2001); “Adagio for Strings”, do DJ Tiësto (2004); e “Turn It Up”, do DJ Armin van Buuren.

    Uma curiosidade: Buuren foi responsável pela criação, em 2001, do programa de rádio “A State of Trance”, que apresenta lançamentos do estilo. Hoje, o programa está disponível no YouTube e em serviços de streaming.
  • Drum and Bass: conhecido também como D&B, surgiu nos anos 90, na Inglaterra, caracterizado por batidas rápidas e irregulares, além do baixo forte e pulsante. Traz influência de estilos como funk, soul, rock e hip-hop.

Agora, é só apertar o “play” e curtir o seu subgênero preferido. Fique com a gente! Até a próxima!

About Luciana Amaral

Luciana Amaral é cantora profissional, jornalista, revisora e redatora freelancer. Já participou de vários cursos de canto, como o Modern Mix Voice, do professor Caio Freire; Solte Seu Belting, do professor André Barroso; Canto Popular, durante o Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília (Civebra); e Congresso Online de Voz Cantada, realizado pela Faculdade Novo Horizonte e pela professora Flávia Caraíbas. https://www.instagram.com/luciana.amaral_cantora/

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