Orquestra filarmônica: uma história dedicada à boa música

Você sabe como uma orquestra é financiada? É justamente a fonte de financiamento que diferencia primariamente uma orquestra filarmônica de uma sinfônica. Isto, pelo menos, historicamente. Com o passar do tempo, essa diferença não ficou mais tão evidente, como veremos mais adiante.

Este é o primeiro aspecto que precisamos abordar, para compreender as origens, formação e funcionamento das orquestras filarmônicas.

Ao longo deste artigo, você irá mergulhar um pouco na história desses conjuntos musicais, assim como suas formas de sustento e suas principais semelhanças em relação às orquestras sinfônicas. Também iremos conhecer alguns dos diversos grupos filarmônicos em atividade pelo mundo.

Preparados para mais esta viagem musical? Então, fique com a gente!

O que é uma orquestra filarmônica?

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Primeiramente, vamos entender o que significa a palavra “filarmônica”. Seu prefixo vem do grego “philos”, que significa “amigo de”. O restante do termo refere-se à “harmonia” ou combinação de sons agradáveis. Então, podemos traduzir para algo como: “amigo da harmonia” ou “amigo da música”, numa definição um pouco mais ampla.

Todo esse significado faz ainda mais sentido quando observamos as raízes históricas do desenvolvimento das orquestras filarmônicas.

Por volta do século XVIII surgiram as primeiras sociedades musicais filarmônicas, ou seja, de “amigos da música”, os quais organizavam apresentações musicais cujas entradas dependiam de pagamento prévio.

No ano de 1743, em Leipzig, na Alemanha, por exemplo, os chamados “Grandes Concertos Musicais” ou “Grosses Concert” ocorriam em salões nobres frequentados tanto pela nobreza quanto por cidadãos comuns. Todos eles pagavam um valor anual consideravelmente alto para poderem conferir as performances do conjunto de músicos.

E esta era a ideia embrionária das filarmônicas: instituições independentes, autogeridas e financiadas pela sociedade civil. Já as orquestras sinfônicas, a princípio, deveriam ser mantidas principalmente por recursos governamentais.

Tal dinâmica de captação de verbas, porém, já mudou bastante, como dissemos no início deste artigo. Os recursos podem advir tanto de entes públicos quanto privados, independentemente do tipo de orquestra.

Seja como for, em todos os outros aspectos, filarmônicas e sinfônicas sempre foram similares: são orquestras com pelo menos 45 músicos, os quais se dividem em naipes de cordas, metais, madeiras e percussão. O repertório é majoritariamente de música erudita, em ambos os casos, mas atualmente há uma flexibilidade maior desses grupos em executarem outros estilos.

Fontes de financiamento da orquestra filarmônica

 Um linda orquestra filarmônica se apresentando em um grande teatro antigo.

Na atualidade, a orquestra filarmônica pode angariar verbas de diversas fontes, variando de acordo com o país e a cidade onde está localizada. Geralmente, inclui:

  • Financiamento governamental: muitas orquestras filarmônicas recebem subsídios do governo para cobrir despesas operacionais.
  • Doações e contribuições: empresas, instituições e indivíduos podem doar dinheiro em apoio a essas orquestras.
  • Receita de concertos: a venda de ingressos para apresentações é uma fonte significativa de receita para sustento dos grupos filarmônicos.
  • Patrocínio corporativo: empresas podem optar pelo patrocínio das orquestras em troca de publicidade.
  • Eventos de angariação de fundos: a orquestra pode ser contratada para se apresentar em eventos particulares e, assim, arrecadar dinheiro para o seu sustento.

A primeira orquestra filarmônica oficial

O nome “filarmônica” em um grupo orquestral passou a ser usado oficialmente pela primeira vez com a criação da Orquestra Filarmônica de Viena, em 1842, pelo maestro e compositor alemão Carl Otto Ehrenfried Nicolai.

Este conjunto orquestral se destaca até hoje como uma das cinco melhores orquestras do mundo, sendo bastante popular.

Entretanto, sua trajetória não ficou imune a polêmicas. Mulheres instrumentistas só passaram a ser permitidas no grupo muito tardiamente, a partir de 1997, com a entrada da harpista Anna Lelkes.

E isto só ocorreu por pressão da população e do próprio governo austríaco, que ameaçou secar a fonte de recursos públicos, caso não fosse inserida alguma musicista no seleto elenco da orquestra.

Após a saída de Lelkes, outra harpista, Charlotte Balzereit, ocupou o seu lugar. Além dela, a Filarmônica de Viena conta atualmente com outras três mulheres em seu conjunto: Isabelle Ballot Caillieret (spalla) e as violistas Daniela Ivanova e Ursula Plaichinger.

Orquestra filarmônica de Berlim

Também considerada uma das melhores do mundo, a Orquestra Filarmônica de Berlim teve seu início, curiosamente, a partir de um ato de rebelião.

Em 1882, 50 músicos dirigidos pelo diretor musical Benjamin Bilse não quiseram assinar novos contratos, por considerarem as condições de trabalho desfavoráveis. Assim, formaram uma cooperativa e fundaram um novo grupo, a “Philharmonisches Orchester”, o qual tentou se sustentar, inicialmente, por sua conta e risco.

Na época, Berlim não era muito importante musicalmente. O conjunto filarmônico recém-criado sequer contava com salas de concertos bem estruturadas, ao contrário de Viena.

As primeiras apresentações ocorreram num modesto restaurante ao ar livre e, posteriormente, num rinque de patinação com 2 mil lugares. Com o tempo, o local passou por reformas, tornando-se a “Philharmonie”, a sala de concertos mais importante da cidade.

O grupo recebia apoio empresarial e administrativo, chegando a estabelecer uma parceria com o Royal Music Conservatory, dirigido pelo violinista Joseph Joachim.

Ao longo dos anos, passaram pela orquestra berlinense nomes como os maestros Ludwig von Brenner, Ernst Rudorff e Franz Wüllner.

Mas o período de maior evolução foi durante a regência de Herbert von Karajan, entre 1956 e 1989.

Uma das principais iniciativas do regente foi a fundação da Karajan Academy, no início da década de 1970, a qual revelou diversos talentos da música de concerto. Outro projeto importante foi o Concurso de Regência Herbert von Karajan, responsável por descobrir e lançar internacionalmente jovens maestros, como Valery Gergiev e Mariss Jansons.

Sob a batuta de Karajan, a Orquestra Filarmônica de Berlim ganhou também uma nova casa: a Filarmônica de Kemperplatz, projetada por Hans Scharoun.

Além disso, o maestro ajudou a popularizar o grupo mundialmente, gravando as performances em discos, CDs e até em produções cinematográficas.

Outro aspecto interessante em relação à Filarmônica de Berlim foi sua rápida adaptação à era virtual.

Os fãs de música erudita puderam conferir a primeira apresentação online da orquestra em 6 de janeiro de 2009, realizada no Digital Concert Hall – ou Sala de Concertos Digital. O projeto contou com o apoio do Deutsche Bank.

Orquestras filarmônicas no Brasil e no mundo

Pessoas com instrumento ensaiando com um maestro

Agora que você conheceu um pouquinho sobre as orquestras filarmônicas de Viena e Berlim, vamos citar rapidamente outros ótimos grupos filarmônicos que ainda estão em atividade, tanto no Brasil quanto no exterior. Confira:

Orquestra Filarmônica de Nova York –

Criada um pouco depois da Filarmônica de Viena, ainda em 1842, essa orquestra é conhecida oficialmente como Sociedade Filarmônica de Nova York. Em 1921 fundiu-se à Orquestra Sinfônica Nacional de Nova York.

Entre os principais regentes que comandaram o conjunto musical estão Leonard Bernstein e Zubin Mehta. Atualmente está no seleto grupo das “Big Five”, referente às cinco melhores orquestras dos Estados Unidos.

Orquestra Filarmônica de Londres –

Fundada em 1932 pelo maestro Thomas Beecham, a orquestra é uma das maiores do Reino Unido. Atualmente se encontra sob a regência do russo Vladimir Mikhailovich Jurowski.

Orquestra Filarmônica de Minas Gerais –

Criada em 2008, a orquestra tem cerca de 90 instrumentistas, os quais são regidos pelo diretor artístico Fabio Mechetti. Em 2010, recebeu o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Artes (APCA) como o melhor grupo erudito do País.

Apesar do conjunto instrumental ter sido fruto de uma iniciativa governamental, sua administração está a cargo do Instituto Cultural Filarmônica, uma entidade sem fins lucrativos.

Anualmente são destinados cerca de R$ 30 milhões à orquestra, os quais são utilizados para bancar a remuneração dos músicos e de outros 60 funcionários, os custos com artistas que tocam com a filarmônica e, ainda, os gastos operacionais e administrativos. Mais da metade dessa verba é bancada pelo Estado.

Orquestra Filarmônica de Brasília –

Músicos da Universidade de Brasília (UnB) e da Escola de Música de Brasília (EMB) foram responsáveis pela fundação da orquestra, em 1985.

Além dos tradicionais concertos de música erudita, o grupo já realizou shows com cantores famosos, como Oswaldo Montenegro, Ivan Lins, Roberta Sá e Ellen Oléria, entre outros.

Outro aspecto interessante da OFB é a promoção de projetos sociais, como o Viva Arte Viva, criado em 2006 para oferecer aulas de teatro e dança a crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social.

Para a manutenção de suas atividades, a orquestra conta principalmente com a doação financeira de apoiadores. Além disso, é constantemente contratada para tocar em eventos particulares, como casamentos, serenatas e confraternizações.

E você? Já teve a oportunidade de assistir a uma apresentação de uma orquestra filarmônica?

Caso exista um conjunto desse tipo em sua cidade, fique atento à agenda de concertos e prestigie os músicos sempre que puder. Vale muito a pena e é uma forma de apoiar o talento desses artistas. Até a próxima!

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