Em determinados estilos, a segunda voz é simplesmente imprescindível. E nem é preciso pensar demais no assunto. Basta se lembrar dos grandes sucessos do sertanejo dos anos 90.
Muita gente brincava que os pares dos solistas “não cantavam nada”. Porém, com as tristes perdas de alguns desses grandes músicos, houve quem notasse como faltava muito, ali.
Isso ocorre porque a segunda voz engrandece a melodia. Ela não apenas sustenta e destaca a voz principal. Ela ilumina e enaltece toda a canção.
Há cantores que, mesmo sendo solistas, gravam suas músicas mais de uma vez. Tudo isso para contar com o magnífico mundo da segunda voz.
Hoje, conheceremos a teoria por trás da segunda voz. Mais adiante, aprenderemos a treinar nossos ouvidos para aplica-la com maestria.
Vamos juntos!
A teoria da segunda voz
As escalas musicais
Toda canção possui uma melodia. Ela é executada pela voz principal, e todos os instrumentos obedecem a ela, na harmonia.
Quando falamos de cantores e músicos profissionais, a melodia vai transcrita na partitura. Com isso, é possível cantar mesmo sem conhecer previamente a música. Tanto a primeira quanto a segunda voz.
No entanto, mesmo que você não leia partitura, é importante aprender a teoria da segunda voz. Para isso, é preciso saber como funcionam as escalas musicais.
Sei o quanto parece coisa de outro mundo. Mas, com calma e atenção, isso será bastante fácil de assimilar. Basta engatinhar no tema utilizando algo que todo mundo conhece:
Você se lembra daquela música infantil “Dó Ré Mi Fá”? Pois bem: é simples como isso! Confira:
Fixe nos trechos que mostram um tecladinho de piano. Repare como apenas as teclas brancas são acionadas. Embora seja um desenho infantil, isso irá iluminar sua mente.
Ocorre que a canção está todinha na escala de Dó. No piano, a escala de Dó só usa teclas brancas. Pois as teclas pretas reproduzem os acidentes: sustenidos e bemóis.
A escala de Dó como introdução à segunda voz
A escala maior de Dó é grandemente assimilada por todos nós. Tanto que, apenas lendo, é possível se lembrar do som de cada nota:
Dó – Ré – Mi – Fá – Sol – Lá – Si – Dó
Várias músicas a utilizam para sua melodia, como por exemplo:
- Parabéns pra você, canção popular;
- Minha canção, de Chico Buarque;
- Belle de Jour, de Alceu Valença;
- Imagine, de John Lennon;
- Dust in the Wind, dos Scorpions;
- Heaven, do Brian Adams;
- Etc.
Quando isso acontece, costumamos dizer que a canção está no tom de Dó. Sabemos, portanto, que as notas que cantaremos serão aquelas já conhecidas e mencionadas.
Há um infinito para saber sobre a construção das escalas. Embora utilíssimo, fugiria um tanto do que propusemos, aqui.
Assim, pesquisando pela internet, encontrei uma matéria excelente sobre escalas musicais no blog Dicas de Violão. Lá, você poderá entender a questão de intervalos e a lógica da construção de cada escala.
Por isso, antes de seguirmos, não se esqueça de visitar a matéria indicada. Isso te ajudará principalmente quando o tom da canção for outra nota diferente de Dó. Tudo bem?
Ainda, confira a matéria do mesmo site sobre sustenidos e bemóis. Esses são os acidentes musicais dos quais falamos antes. E não se preocupe: embora o blog trate de estudo do violão, a teoria musical é sempre a mesma. Seja para instrumentos ou para nossa voz, tudo permanece igual.
O que nos importa, aqui, é compreender a construção da segunda voz. Ela utilizará a estrutura da escala tanto para a construção da segunda voz como das demais.
Focaremos no terceiro grau para elaboração da melodia auxiliar. Mas permita-me explicar mais a fundo antes. Combinado?
O terceiro grau das escalas: o esqueleto da segunda voz
O grande truque por trás da segunda voz repousa do entendimento dos diversos graus de uma escala. Ao falarmos da segunda voz, consideramos o terceiro, mais alto ou mais baixo.
Contudo o mesmo processo é retomado para a terceira, quarta ou qualquer outra voz que se pretenda aplicar. Basta utilizar outro grau.
Isso torna-se valiosíssimo quando nos referimos ao canto polifônico, com quatro ou mais vozes distintas. Cada voz assumirá a melodia em um grau diferente.
Mas comecemos a questão pela segunda voz. E, como antedito, ela se vale do terceiro grau. E tanto faz que seja mais alto ou mais baixo. Importa ser o terceiro grau.
Ocorre o seguinte: temos, na escala maior de Dó, o já mencionado Dó – Ré – Mi – etc. No entanto vejamos isso aplicado a uma tabelinha:
- Grau: diz respeito à progressão a partir da nota tônica. E reparou que, no oitavo grau, o Dó se repete? Isso ocorrerá sempre, em qualquer escala;
- Nota: cada uma das notas que compõem a escala em questão. Esta, do exemplo, é a escala maior de Dó;
- Intervalo: apenas por curiosidade, apontei o intervalo entre aquele grau e o próximo. Estudando as matérias de apoio, o assunto ficará mais simples para você.
Reparou como destaquei a tônica e o terceiro grau? E o fiz para esclarecer como identificamos qual nota será assumida por nós para a segunda voz.
Como a segunda voz se vale do terceiro grau, no caso de uma melodia em Dó, ela utilizará o Mi como primeira nota. A partir dela, seguirá fundamentalmente a mesma variação da voz principal.
A segunda voz de Parabéns pra você
Caso esteja apenas começando a trabalhar com teoria de escalas e intervalos, tudo bem. Pode parecer confuso e distante, de começo. Mas verá que, com afinco, fará todo o sentido do mundo.
Já sabemos que, para a segunda voz, usamos o terceiro grau da escala. E, embora haja dito terceiro grau mais alto ou mais baixo, foquemos no mais alto: Mi.
No primeiro momento, veremos como ficaria a progressão da primeira voz sobre a segunda voz. Isso apenas descrevendo as notas que estão sendo cantadas.
Mais tarde, com suporte de um instrumento musical qualquer, você poderá reproduzir por si as sonoridades. Veja só:
Atente-se para o 8, apontado em algumas notas: ele diz respeito, tanto na primeira quanto na segunda voz, ao oitavo grau da nota. É a mesma sonoridade, porém mais aguda.
Aqui, tudo que fizemos foi transportar cada nota três graus para a frente. Sempre respeitando a escala maior de Dó. Por isso não há qualquer acidente (sustenido ou bemol). Eles inexistem, nesta escala.
O resultado? Uma formidável linha melódica para a segunda voz da canção de aniversários. Magnífico, não é mesmo?
Com isso, encerramos a primeira etapa de compreensão da teoria da segunda voz. E, caso pretenda utilizar o terceiro tom mais baixo, é simples: basta utilizar duas notas anteriores à tônica. No caso da escala de Dó, comece a linha valendo-se do Lá. O restante segue a mesma lógica.
Concentremos, a partir de agora, nossa atenção na prática. Ela será a responsável por conseguirmos cantar, de fato, a segunda voz nas músicas que estudamos.
Com dedicação, será possível até fabricar segunda voz de improviso. Isso dará a você autonomia e profissionalismo, ao cantar vozes auxiliares.
Segunda voz na prática
Saber quais notas devem ser cantadas é apenas o primeiro passo. O que importa, realmente, é sermos capazes de transformar a segunda voz em realidade. Você está aqui para isso.
Nesta etapa, abordaremos métodos perfeitamente eficazes. Eles te darão aptidão plena para desenvolver a segunda voz com segurança e precisão. E o primeiro deles é o suporte instrumental.
Trabalhando a segunda voz com instrumentos de apoio
Um ouvido bem treinado é capaz de criar e cantar a segunda voz apenas ouvindo a melodia principal. Mas isso é um processo, e se adquire tal habilidade com tempo e trabalho duro.
Quando iniciamos o estudo da segunda voz, a melhor prática a se seguir repousa nos instrumentos musicais.
Mesmo que você tão só cante, contar com um instrumento facilita todo o processo. E, no caso da segunda voz, afina nossa percepção.
Pode ser uma flauta, violão, um tecladinho de brinquedo ou até mesmo um xilofone. Pouco importa. Basta ter intimidade suficiente para encontrar aquela nota que estamos buscando.
E, aqui, o recomendável é sempre começar a estudar canções em tom de Dó. Afinal, qualquer instrumento possui esta escala. Até mesmo os infantis, com finalidade lúdica.
Possuir e saber tocar um instrumento, por mais simples que seja, nos torna cantores melhores. Contudo, se você não pode arcar com o investimento agora, tudo bem: há aplicativos de celular que podem quebrar o galho, de imediato.
De pianos a guitarras virtuais, você encontrará uma gama imensa de alternativas nas lojas. Se cabe a recomendação, indico alguns:
- GarageBand: para o iOS;
- WalkBand: para o Android;
- Perfect Piano: disponível para ambas plataformas;
- Real Guitar: para Android.
Basta fazer a instalação em seu celular e usufruir dos benefícios de um instrumento que jamais irá desafinar. Então, escute cada nota e a reproduza com a maior fidelidade possível.
Porém considere sempre aprender um de verdade. O ukulelê, por exemplo, é leve, barato e incrivelmente versátil. Ele te auxiliará tanto como suporte da voz principal como guia para a segunda voz.
Memorizando a segunda voz
De início, não será fácil nem confortável cantar a segunda voz enquanto se ouve a principal. E não há qualquer problema. Trata-se de um bloqueio natural, o qual todos enfrentamos hora ou outra.
Ocorre que nossa mente não está totalmente preparada para processar a segunda voz, ao começarmos. Ela acaba se rendendo à memória da melodia principal. Produzir uma segunda voz auxiliar, neste momento, acaba gerando confusão.
E como superar? Simples: treino e intimidade com a melodia da segunda voz. E tais, num primeiro momento, dizem respeito fundamentalmente a decorar e reproduzir. Você deverá estudar com calma, em casa, a segunda voz. Na hora de cantar, precisará se concentrar na nova melodia decorada. Cobrir um dos ouvidos pode até ajudar.
Esse ato, de memorizar e reproduzir, se repetido bastante, gera a habilidade de se desprender do que estamos escutando. Nossa mente estará apta a priorizar a melodia da segunda voz, usando o arranjo e voz principal como trilhos. Essa é a liberdade que buscamos. E só pode ser adquirida com treino e perseverança.
Utilizando gravações para treinar a segunda voz
Mais uma vez, o celular se mostra um grande aliado no estudo da segunda voz. Antes, com os instrumentos musicais; agora, com o gravador. E há opções para todos os sistemas operacionais.
No caso do iOS, basta utilizar o gravador de áudio padrão. Se estiver usando o GarageBand, ainda melhor. Ele permite gravar várias pistas. Você poderá, inclusive, verificar seus resultados e corrigir potenciais falhas. Porém, se usa o Android, aplicativos de terceiros como o Hi-Q MP3 Voice Recorder serão uma mão na roda.
O grande segredo, aqui, será gravar a primeira voz da canção, no celular. Com ajuda de um fone de ouvido ou caixinha externa, você reproduzirá a gravação. Agora, basta cantar a segunda voz por cima dela. Importa apenas repetir o processo até que tudo esteja natural e confortável.
Indo além do básico
Depois de bastante treino e estudo, você já estará mais confortável com a segunda voz. Será possível, facilmente, cantar em conjunto com outro vocalista. Nesta hora, torna-se possível diversificar e explorar novos horizontes.
O princípio fundamental sempre será o terceiro tom (mais alto ou mais baixo). No entanto é possível não apenas reproduzir a melodia principal com a variação tonal. É possível, também, criar uma nova melodia diferente. Bastará trabalhar notas harmonicamente condizentes com a melodia principal.
Você pode segurar uma nota por mais tempo. Pode alternar entre oitavas inesperadas ou, até, repousar em notas idênticas à da melodia principal. Aqui, quem manda é a criatividade.
E então? O que achou? Ficou ainda alguma dúvida?
Se sim, basta conversar conosco pelos comentários. Será um prazer te ajudar a dominar a segunda voz com maestria.
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